O alvo mais fácil é sempre o mais fraco. Hoje, voltamos a lembrar isso, com o Dia Mundial Contra o Tráfico de Seres Humanos.

As principais vítimas estão em completa situação de fragilidade, obrigadas a procurar refúgio e o recomeço da sua vida noutros lugares que não aquele onde nasceram ou decidiram de livre vontade viver. De acordo com dados das Nações Unidas, o número de pessoas nestas circunstâncias bate recordes na atualidade.

Os conflitos armados, a pobreza e os deslocamentos impulsionam o tráfico, pois as rotas perigosas como as da Líbia e as do Mediterrâneo – citando casos próximos a Portugal – colocam milhares em elevado risco e à mercê de redes criminosas.

Mulheres e meninas são as maiores vítimas para exploração sexual. Entre os homens reina exploração laboral. Portugal tem sido, infelizmente, país de passagem, rota do tráfico, mas também ponto de chegada e destino, o que importa reverter.

Esse é um caminho que todos nós – sociedade civil, governo, instituições, todas as pessoas – temos de fazer. É necessário, por isso, saber reconhecer sinais concretos de situações de tráfico de seres humanos e é preciso reportá-las às autoridades que têm de ter meios de investigação e combate ao tráfico.

Do mesmo modo, é preciso acabar com discursos de ódio que atacam pessoas em situação de fragilidade e tentam demonizá-las. A covardia de certos (pretensos) líderes políticos é essa: atacam quem não têm voz, pela via da mentira, sem o contraditório.

O problema é que sementes de ódio florescem sempre junto de quem tem mais medo. Daí que, numa altura em que tanto se discute a liberdade de expressão, não podemos continuar a aceitar que a mentira assalte o espaço público. Ainda mais quando se direciona contra estes grupos vulneráveis. É um dever que não podemos abdicar em nome do direito à justiça.

Em vários países europeus, como Alemanha, Grécia, Itália, Holanda, Reino Unido e França, as redes sociais foram invadidas pela já referida imagem com dezasseis rostos, todos maltratados ou desfigurados, às mãos de migrantes. Em Portugal, teve espaço na página do partido CHEGA! – Palmela no Facebook, com a legenda “Bang bang bang...”.

Para muitos, pouco importa se eram mesmo vítimas de violência perpetrada por migrantes. Mas, para outros, importa e muito. E, na verdade, não o são. Uma rápida pesquisa sobre a origem de cada uma das fotografias permite-nos saber de onde foram retiradas e qual a história por detrás de tamanha barbaridade.

Para encontrar a verdade, temos cada vez mais plataformas online que nos ajudam a detetar a manipulação de notícias, vídeos, imagens ou posts nas redes sociais. Um desses exemplos é o The Observer, que resulta de um projeto colaborativo, em quatro línguas – inglês, francês, árabe e persa – e um programa de televisão. Em Portugal, também já há projetos e pessoas que, valorosamente, se dedicam a expor o embuste vendido como facto.

Uma mentira repetida mil vezes não se transforma em verdade. Este argumento ganha ainda mais força quando vemos que as fake news servem para atacar pessoas em risco, em termos semelhantes a um discurso que usa bodes expiatórios para culpar outros de problemas que não sabem ou não querem resolver com políticas públicas, pois aquilo que procuram é semear divisão apenas para chegar ao poder.

Este discurso tem tido sucesso na Hungria, na Polónia, na Itália. No Parlamento Europeu há ainda mais países com deputados e deputadas extremistas que se conseguiram eleger – devido aos seus egos gigantes, não conseguem formar um bloco grande ou influente. Noutros países, como as atuais lideranças políticas nos EUA, no Brasil, na Venezuela, na Turquia, nas Filipinas, mais ainda. Muitos movimentos, tanto à direita, como à esquerda, quer no presente, quer no passado, seguem a receita do medo e do ódio. Fazem-no sem verdade, cheios de incongruências.

Os exemplos que temos visto em Portugal tentam imitá-los e têm conseguido: no conteúdo, na mentira e na incoerência. O próprio partido CHEGA! tem no seu manifesto – e cito – “chega de intolerância e discursos de ódio”.

Tenho a firme esperança de que o seu sucesso será curto e momentâneo. Em Portugal, e no mundo, não precisamos de ódio, muros, gritaria e medo. Estes não podem dominar o discurso político.

O tempo é de semear confiança e esperança, de apresentar ideias e soluções onde todas as pessoas tenham lugar.

Exige-se responsabilidade aos políticos quando usam a emoção das pessoas. Aos que não cumprirem com esta obrigação, tenham a certeza de que responderemos com confiança e esperança. Responderemos com os valores que nos fazem caminhar para um futuro melhor, para o bem, para um mundo de desenvolvimento para todas as pessoas sem exceção.

Nesse mundo em construção, potenciais vítimas de tráfico de seres humanos serão protegidas e defendidas, não atacadas pela covardia. É um mundo onde todos podem usufruir dos direitos humanos. Façam parte dele também. Há lugar para todos. Chega da mentira enquanto estratégia.

Queremos PAZ!, ESPERANÇA!, SOLUÇÕES! e ACOLHIMENTO!. Estes são os nossos partidos.