Estão confirmados mais de 110.270 casos de pessoas infetadas pelo vírus em pelo menos 95 países. O coronavírus está a avançar muito na Europa mais próxima. Itália sofreu, em 24 horas deste último fim de semana, 133 mortes pelo Covid-19. O pulmão económico de Itália está bloqueado, com a medida nunca antes vista na Europa de mais de 16 milhões de pessoas colocadas em quarentena, emergência resultante de mais 7300 pessoas infetadas e 366 mortes. Em França, com mais de 1100 infetados reuniu-se o Conselho de Defesa, presidido por Macron, e estão proibidos ajuntamentos de mais de 1000 pessoas. Em Espanha, 589 casos declarados e 17 pessoas falecidas.

O Covid-19, em menos de três meses, matou quase 4000 pessoas. É terrível, mas estamos muito longe da mortandade provocada pelas pestes medievais. A peste negra que em meados do século XIV assolou a Europa acabou com a vida de milhões de pessoas. As estimativas de historiadores têm intervalo largo, mas tremendo, de morte de 30 a 60% da população da Europa de então.

O biólogo e biogeógrafo Jared Diamond (Boston, EUA, 1937), publicou em livro, em 1997, com o título Guns, Germs and Steel, a investigação que conduziu em que mostra como epidemias fizeram desaparecer civilizações e deram forma à humanidade. 

Os conquistadores espanhóis dizimaram comunidades nativas da América Central no tempo pré-Colombo, com milhões de pessoas, ao infetarem-nas com vírus de que eram portadores e para os quais esses povos indígenas não tinham defesas. Os vírus foram mais letais do que as armas dos conquistadores. Quase três séculos depois, em 1804, a armadilha de um vírus arrasou as tropas francesas que tinham sido enviadas para o Haiti para reprimir a revolta dos escravos; a infeção desmantelou o exército enviado de França, que ficou incapaz de evitar a independência do Haiti.

A campanha do enorme exército napoleónico na Rússia (1812) terminou em desastre, em parte pelo frio, mas sobretudo pelo tifo e por outras infeções transmitidas por piolhos, que devastaram o exército imperial.

Carole Reeves, perita britânica em história da medicina, explica que até à Primeira Grande Guerra (1914-18), nas guerras, as infeções "causavam muito mais baixas do que as armas".

A ciência médica avançou prodigiosamente no último século. A tuberculose, em 2018, ainda matou mais de milhão e meio de pessoas, sobretudo em África. Mas o problema, gravíssimo, já é apenas o de acesso aos cuidados de saúde, porque existem há muito os antibióticos para curar a tuberculose. Ainda não está ganha a batalha contra o cancro, mas todos os dias há progressos. A SIDA tornou-se uma doença crónica, controlável, assim haja acesso aos cuidados terapêuticos.

A varíola foi declarada erradicada em 1980, mas depois de ter acabado com a vida de muitos milhões de pessoas, entre 300 e 500 milhões. O mal subsistiu durante quase dois séculos depois de Edward Jenner, em 1796, ter desenvolvido a vacina antivariólica.

O ébola e a malária são duas ameaças dramáticas que persistem em países pobres e que são causas de tremenda desolação. Os estragos provocados por estes dois males demonstram a continuidade incapacidade de governos, organizações multilaterais e organizações não-governamentais para darem com prontidão a resposta necessária, com a criação de infraestruturas e sistemas de saúde adequados para fazer frente a estes flagelos.

Agora, temos o coronavírus. Os mercados financeiros estão a revelar neste começo de semana, a ansiedade em escalada pelo mundo. 

Temos ansiedade com a dúvida sobre se estamos preparados para enfrentar este Covid-19? A ansiedade e os medos costumam desenvolver-se em modo desproporcionado com a realidade. A nosso favor está a força que temos para, mesmo perante os medos, fazermos tudo para limitar o contágio durante a epidemia. A nossa atitude com compromisso cívico, de cada um de nós, é decisiva para ajudar, solidariamente, a conter a epidemia.

A TER EM CONTA:

Como o coronavírus está a impulsionar novos modos de trabalho.

Quanto tempo será preciso esperar para que fique desenvolvida a vacina?

A importância dos estafetas em tempos de restrições.

OUTROS ALARMES: 

A crise migratória volta a disparar.

Os inquietantes sistemas de videovigilância que alastram  em Moscovo.