As Mães precisam umas das outras.
De estar umas com as outras, presencialmente e em sítios físicos para que se possam abraçar, olhar nos olhos, sentir.
Precisam de ir a casa umas das outras para ver a desarrumação, os brinquedos espalhados por todo o lado, a roupa por passar, a louça por arrumar, as camas por fazer.
Precisam de ver outros bebés chorar, sujar a roupa de domingo, comer com as mãos, responder torto, desobedecer, fazer traquinices, ter acessos de raiva porque lhes disseram que não.
As Mães precisam de se ver espelhadas umas nas outras, para saberem que quem são, o que são, o que vivem, não é a fava do bolo rei, não é um castigo dos céus, nem um exclusivo “cá de casa”.
Precisam de ver que os dias de absoluto caos, especialmente aqueles que duram semanas, se intercalam no meios dos dias incríveis em que a harmonia quase nos convence que já dominamos a arte de bom maternar.
As Mães precisam de estar com outras mães que lhes mostrem que tudo o que vivem é normal.
É normal não dar conta do recado.
É normal ter a casa em pantanas.
É normal lidar com birras em loop.
É normal não dominar trabalhos manuais dignos de museu.
É normal ter zero paciência para brincadeiras, ficar farta delas e detestar ler e repetir até ao infinito a mesma história.
É normal deixar os filhos dormir na cama, parte da noite ou a noite inteira, porque é mais fácil e custa menos dormir torta do que acordar de hora a hora para ir dar colo, mama, ambos ou simplesmente nada nos deixa mais felizes que senti-los colados a nós, como quando eram recém-nascidos.
É normal emocionarmo-nos diariamente com o quão incríveis eles são, e caramba, com o incrível que nós somos! Nós, que os gerámos, parimos e que agora somos eternas malabaristas a fazer tudo o que já fazíamos antes e ainda a mandá-los lindos, limpos e engomados (ou não) para a escola.
É normal ter saudades da vida pré-filhos.
É normal sonhar com umas férias românticas em que volto a saber o que é estar na praia de papo para o ar.
É normal ter dúvidas, medos, sobre tudo, sobre eles, sobre ter mais filhos, sobre ter tido todos os que tivemos.
É normal não dominar o BLW, o babywearing, as fraldas reutilizáveis e escolher a cadeira mais simples do supermercado, em vez de gastar balúrdios nos modelos xpto que as influencers recomendam nas redes sociais.
É normal mandar vir comida para poder passar mais tempo a brincar com eles depois de um dia de trabalho.
É normal amar a amamentação, mas querer parar e simplificar com um biberão, porque assim pelo menos é o Pai que lá vai, e também já pode passar fins-de-semana com os avós.
É normal não fazer puto ideia do que é Montessori, Pikler, Waldorf, Mindfulness e - pasmem-se - ainda assim conseguir ter filhos incríveis, saudáveis, capazes e com um intelecto de fazer babar os senhores de Harvard.
É normal adorar e detestar a maternidade. Às vezes quase em simultâneo.
É normal precisar de ajuda, momentânea ou prolongada. E pedi-la.
Tudo isto, e tanto mais, é absolutamente normal.
O que não é normal é a ideia absurda que a sociedade nos impõe de que sejamos capazes de fazer tudo, de acertar à primeira, de encontrar sozinhas o equilíbrio impossível em todas as esferas da nossa vida. Não é normal que a nossa saúde mental seja engolida por um manto de invisibilidade porque “o que importa é o bebé”. Importamos nós, mães, mulheres, e por vezes esse lembrete vem desses momentos que partilhamos juntas, em que te falo sem filtro, em que te peço ajuda, colo, empatia e tu me estendes a mão, me ouves, me aceitas.
Neste quase quatro anos de maternidade profundamente desejada e amada, com dois filhos, aquilo de que mais precisei foram as mães com quem me cruzei, que me ouviram no desespero, que choraram comigo e que rebentaram em gargalhadas com os meus disparates.
Celebro este dia consciente do tanto que temos para fazer para que se normalize uma maternidade perfeita na sua imperfeição, porque se é verdade que é preciso uma aldeia para criar uma criança, é preciso uma tribo para se viver a maternidade.
As Mães precisam umas das outras, porque as nossas semelhanças são infinitamente superiores às nossas diferenças, e a nossa força reside também aqui, no sermos tudo isto, que é tanto, em conjunto.
Feliz Dia da Mãe.
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