Uma campanha circula nas redes sociais e alerta para o facto de a internet (o algoritmo, senhores) ter assumido os preconceitos da sociedade, nomeadamente no que respeita às desigualdades de género. A campanha chama-se correct the internet e, por enquanto, foca-se nas questões relacionadas com o desporto. Se perguntarmos à internet quem marcou mais golos em jogos de selecção, a resposta é Cristiano Ronaldo, mas a realidade é que a melhor marcadora é uma mulher e dá pelo nome de Christine Sinclair. É uma futebolista do Canadá que soma medalhas e prémios como poucos. Ah, é uma mulher e joga futebol, dirão alguns, que importância tem? Toda a importância do mundo, se não se importam. Não podemos continuar a promover atletas homens em detrimento de mulheres e, acima de tudo, não podemos, não devemos divulgar informação errada.
Se perguntarmos quem é o tenista com maior sucesso, aquele que mais vitórias acumulou mantendo-se no primeiro lugar por mais tempo, a internet devolve-nos o nome de Novak Djokovic. A realidade mostra que a vencedora do título é Steffi Graf. O que se passa?
Parece que a resposta é simples: o algoritmo assume a maioria, assume os preconceitos, as tendências, o algoritmo engana-se e leva-nos a ter convicções que estão erradas e isso tudo pode ser comprovado com uma coisa que se chama: verificar factos junto de fontes fidedignas. Isso dá um certo trabalho, aviso.
Quando dizemos, em casa, com amigos, que não sabemos alguma coisa, também brincamos e apressamo-nos a agarrar no telemóvel: Vamos perguntar ao senhor Google. O Google é um motor de busca. Um algoritmo, uma ferramenta de comunicação que não está obrigada à verdade dos factos. É fidedigna? Talvez possa ser considerado como tal em algumas áreas, não tenho a certeza, mas, como esta campanha demonstra, no desporto e nas questões de justiça e reconhecimento das mulheres e das suas vitórias deixa muito a desejar. E se isto é no desporto, porque não em outras áreas?
Vamos corrigir a internet? Talvez não seja possível quando perpetuamos ideias e as passamos de geração em geração. Talvez não seja possível enquanto tivermos um discurso que não é imparcial. O desporto no masculino é um negócio maior, mexe com mais milhões.
Seja como for, a pergunta que fica é: se isto é uma coisa de nada — Quem marcou mais golos? Quem se manteve em primeiro lugar por mais tempo? —, o que será com outras questões que podem ter influência na forma como olhamos o outro, na forma como votamos? Não me parece que a resposta seja favorável. As lacunas da internet podem ajudar a promover ideias erradas ou falsas. E estamos todos cientes de que existem fake news, talvez não estejamos é tão conscientes da dimensão de adulteração da realidade. No mínimo, é assustador.
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