Na nossa sociedade, a morte aparece-nos muitas vezes como um tabu porque está associada a emoções desconfortáveis como a tristeza e o medo. A experiência emocional ligada à morte não é igual em todos os cantos do mundo. Temos os exemplos do México com a celebração do Dia de los Muertos; do Japão com o Obon Festival ou do Gana com as celebrações da morte ao som de música e dança e que já contou com um vídeo viral bem conhecido por muitos os que estão atentos na internet.
No meu trabalho enquanto psicóloga clínica sou questionada por famílias sobre a forma como devem falar da morte com os mais novos. A conversa pode surgir porque as crianças perguntam para onde vamos quando morremos, manifestam medo de perder os familiares ou quando perdem alguém próximo ou um animal de estimação e têm o primeiro contacto com a morte e o luto. É nestes momentos que os pais e outros cuidadores se questionam sobre a melhor forma de abordar o tema ou, se for o caso, de como comunicar uma perda.
A minha primeira sugestão é sempre: ser honesto. A honestidade, em muitos temas para além da morte e do luto, vai ser sempre uma vantagem. Ao sermos honestos, vamos estar a dar à criança previsibilidade, consistência e, consequentemente, uma ideia mais real do mundo. Cabe a cada família escolher onde basear a sua informação conforme as suas crenças (religião, ciência).
A forma como falamos sobre os temas deve ser adequado a cada idade. O conceito de morte e finitude é difícil de compreender para um adulto, por isso, podemos imaginar como será para uma criança que passa por diferentes estágios de desenvolvimento cognitivo ao longo da infância/adolescência. Para ter uma noção de finitude e irreversibilidade é importante explicar à criança, por exemplo, que o peixinho que tinham no aquário e morreu, não vai voltar; os peixinhos vivem pouco tempo, mas foi
bem tratado e foi feliz lá em casa. Assegurar que é normal sentir-se triste e permitir à criança viver essa tristeza dando-lhe apoio e carinho. Se a família sofrer uma perda de um familiar devido a doença prolongada, explicar à criança que o ente querido estava muito muito doente (para evitar que a criança pense que uma simples constipação mata o pai ou mãe!).
Quando os seus filhos manifestam medo de perder os pais para a morte, não responda coisas como “Não penses nisso agora!”, se a criança pergunta é porque precisa de respostas para não interpretar a realidade à sua maneira. Além disso, falar alivia o medo e a ansiedade. Explique que as pessoas nascem, crescem e morrem com muitos muitos anos e não é muito provável acontecer alguma coisa a alguém da família neste momento. Porque estão todos saudáveis e ninguém tem muitos muitos anos.
Não evite o tema. Quanto mais familiaridade, mais fácil será para a criança gerir uma perda no futuro. Se o adulto sentir dificuldades em falar do tema morte, procure fazer um trabalho individual para ficar mais à vontade e peça apoio de outro adulto da família que possa abordar o tema consigo. Incentive a criança a simbolizar as emoções associadas ao tema morte através da brincadeira com bonecos ou desenhos em papel. Utilize a palavra “morte”.
Há temas que deixam mais ansiosos os adultos do que as crianças. E quando os adultos evitam conversas sobre esses temas, estão maioritariamente a evitar sentir as emoções associadas aos mesmos. O que é normal e humano. Para a criança, a descobrir os fenómenos da natureza, do eu e dos outros, é muito importante sentir que existe alguma previsibilidade na compreensão do mundo. Procure estar aberto para responder às questões, valide as emoções e quando não souber responder a uma pergunta, garanta-lhe que vai tentar perceber o assunto e responder-lhe com a maior brevidade possível.
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