A nova ministra da cultura da Suécia e líder d’Os Verdes locais, Amanda Lind, tem um problema cabeludo. Ora, durante os últimos vinte anos, a Heloísa Apolónia nórdica tem envergado frondosas rastas na sua cabeça. Agora, está a ser acusada de apropriação cultural, sobretudo no Twitter (apropriação cultural californiana).

Uma política sueca de direita, Rebecca Weidmo Uvell, alegou que a Lind, como ministra, não se representa apenas a ela própria, mas a toda a Suécia, pelo que não deveria ostentar tão ofensivo penteado. Em primeiro lugar, releve-se o facto da esquerda e da direita partilharem a mesma opinião quanto a condicionar à força, com amaciador mesmo, o cabelo que uma pessoa escolheu usar. É um claro sinal do zeitgeist (apropriação cultural prussiana). O clima persecutório está tão disseminado nos dias de hoje, que nem é pertinente estar a falar de direita ou de esquerda (apropriações culturais girondina e montanhesa).

Não caminhamos para um futuro mais tolerante se sublinharmos que determinadas peças de roupa, cabelos, estilos de música, são exclusivos dos que comprovem pertencer a uma determinada cultura. Onde se traça a linha do que é ofensivo? Um dos casos mais mediáticos neste âmbito foi o de uma mulher com cancro que estaria a incorrer em apropriação cultural por proteger a cabeça com um turbante e ser branca. Entendo a ânsia de preservar os símbolos da resistência de uma minoria, mas talvez a quimioterapia magoe mais do que uma microagressão. Faria sentido, numa sociedade cosmopolita, que se promovesse e caminhasse para a construção de pontes (apropriação cultural do Império Romano), e não que se as deixasse ruir por incúria (apropriação cultural de Entre-os-Rios).

Não me parece que o facto da Ministra da Cultura sueca utilizar rastas seja um comportamento opressivo. De facto, algumas das pessoas que eu imagino que tencionem vir a ser ministros da cultura usaram esse penteado na sua juventude. Talvez considerasse apropriação cultural se tivesse existido uma ação propositada para cooptar símbolos de uma cultura com um objetivo específico de os alienar ou seduzir. Ora, a senhora dá uso aquele estilo há duas décadas. Não é como se tivesse entrado no governo e colocado rastas, só para manter boas taxas de aceitação junto dos fumadores da cannabis (apropriação cultural das ervas daninhas).

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Auto-propaganda, está bem? Vão ver o meu solo de stand-up.