Costa é mestre dos bastidores, sim. Já foi no PS, está agora a liderar um processo e a deixar Pedro Passos Coelho e Paulo Portas para trás. Surpreendentemente. Foram ultrapassados nas negociações, não impuseram uma agenda política e, agora, quase parece que são eles, a coligação, a rejeitar um Bloco Central alargado. Não são, mas isso não é evidente, mérito de Costa. Já justificou não ter apresentado a sua demissão no dia da derrota eleitoral perante aqueles que tinham a vitória socialista como garantida, já ganhou mais umas semanas de vida política, até já se livrou de António Sampaio da Nóvoa.

A troca de correspondência entre a coligação e o PS dizem-nos o suficiente para percebermos o que quer Costa. De outra forma, seria difícil perceber qualquer entendimento, mesmo mínimo, do PS com dois partidos que têm uma montanha a separá-los, o Tratado Orçamental e o euro – e as reuniões ‘interessantes’ que mantiveram. Ao invés dos encontro inconclusivos e vazios com a coligação. Claro que ninguém quer ficar com o ónus do divórcio depois do romance epistolar.

Portugal vai ter um novo governo esta semana, sim. Cavaco Silva vai dar posse ao líder do partido mais votado, Passos Coelho, e vai passar para Costa a responsabilidade de deitá-lo abaixo no debate sobre o programa de Governo.

As cartas estão lançadas e, quase, marcadas. Se António Costa já deitou fora um entendimento com a coligação, por vontade própria, está muito longe de poder assegurar um governo estável de Esquerda. Pela natureza das coisas. Basta avaliar as condições impostas pelo BE e pelo PCP para percebermos a impossibilidade de um acordo consistente. Um acordo que permite reequilibrar as contas públicas. Ponto. Pelo contrário, essas condições serviriam a passagem de regresso da ‘troika’ a Portugal.

O secretário-geral do PS poderia, e deveria, ter seguido uma terceira via. Não precisava de entrar no Governo, não precisava de aliar-se a uma Esquerda que não deixou de ser radical. Poderia e deveria ser a oposição exigente que o país precisa. Mas para ser ‘só isso’, teria de ter saído depois de falhar todos os objetivos? Pois, está aqui a explicação para esta estratégia.

Costa alarmou o país, denunciou esqueletos no armário sem os identificar. Lançou a confusão, disse que eram graves. Só não disse se, pela sua gravidade, permitiriam aplicar o seu programa, mais ainda somado aos programas do BE e do PCP. Em que ficamos? A situação económica e financeira do país está longe ainda de estar estabilizada, sim. O gelo está fino, E por isso é que esta deriva frentista é um risco enorme. Para o país, para o PS e para Costa. Por esta ordem.

Até onde António Costa vai levar a sua estratégia? Jogará tudo na estratégia de vir a ser primeiro-ministro por admitir que, com eleições a curto prazo, terá mais condições para ganhar, mesmo ou sobretudo se vierem a realizar-se a curto prazo. Engana-se, se seguir este caminho.

Se António Costa formar um governo dos derrotados, legítimo do ponto de vista constitucional, mas moralmente ilegal e politicamente inconsistente, as próximas eleições serão um passeio para Pedro Passos Coelho.

O que deve ler?

Os refugiados saíram dos principais noticiários, sim, mas não abandonaram aquelas viagens para fugirem ao inferno. E, agora, com o Inverno à porta, e os muros erguidos em alguns dos países por onde os refugiados precisam de passar, a crise humanitária tem tudo para se agravar. Agora, como relata o jornal Público, a Eslovénia impõe limites à entrada diária de migrantes, enquanto à mesa dos políticos se tenta uma resposta global que continua a não chegar.

E por falar em histórias que dão filmes, saiba que o cineasta Martin Scorcese está a trabalhar num outro filme, o nono, com Robert De Niro. Como pode ler aqui, no Sapo24, o novo filme chama-se The Irishman e tem uma concorrência de peso, em projetos com Taxi Driver e Tudo Bons Rapazes.