Nos últimos anos, o CDS parece ter perdido tudo. Os reformados e os pensionistas terão ficado desapontados com o partido durante os anos da troika, vá-se lá saber porquê. O eleitorado que se convence com a política do medo e com o discurso securitário foi acolhido por Ventura. Os jovens quadros liberais e modernos foram naturalmente seduzidos pelo surgimento de um partido com um bom designer gráfico. O restrito grupo demográfico que, como Nuno Melo, é liberal na economia e conservador nos costumes, optará por ir a jantares para financiar o Chega. O que é que o CDS não perdeu? A imprensa.

Até há pouco tempo, o CDS tinha um destaque nos jornais desproporcional à sua relevância. Hoje, o CDS tem um destaque nos jornais inversamente proporcional à sua relevância. Na semana da COP26, falou-se sobretudo no clima no Largo do Caldas. Para os comentadores portugueses, o aquecimento mais importante desta semana é o das orelhas do Chicão.

Sinto que toda a gente percebeu que o CDS já não existe, com a exceção dos jornalistas de política. Ou então estou a ser injusto e a cobertura da guerra interna do partido tem sido feita por um redator da secção de ciência, uma vez que falamos de uma extinção. Comparativamente com a mediatização do CDS, tenho lido pouquíssimas reportagens sobre o POUS, o Partido Regenerador Liberal, o Movimento Esperança Portugal, o PRD, o Partido Republicano Evolucionista ou mesmo sobre a União Nacional. Se é para dedicar caracteres a partidos que já não existem, acho francamente desigual. Dir-me-ão: “mas o CDS é um partido fundador do regime democrático e que já teve uma ampla representação parlamentar”. Certo, mas nos dias de hoje o peso do CDS não se coaduna com primeiras páginas. Se calhar, está na altura de se lhe dedicar um suplemento de História.

Mais, não sei se dar tanto palco ao CDS não será injusto até para alguns grupos de WhatsApp. Eu não sou militante do CDS, mas também estou inserido num chat pleno de conflituosidade, cheio de printscreens de publicações nas redes sociais, onde se discute tudo menos política, em que o administrador usa o poder de forma discricionária e em que saem pessoas que eu desconhecia sequer terem entrado no grupo. Se eu e os meus amigos não somos tema de editorial de jornal de referência, então o CDS também não pode ser (Diz ele, o homem que acaba de dedicar toda uma crónica ao CDS).