O que Biden disse em conferência de imprensa numa imponente sala do muito cerimonial palácio Akasaka em Tóquio, ficou dito: os Estados Unidos intervirão para defender Taiwan em caso de invasão chinesa.

É uma declaração que rompe com 50 anos de “ambiguidade estratégica”, como política oficial dos EUA na relação com Taiwan.

Custa a crer que esta declaração do presidente dos Estados Unidos não tenha sido ponderada. O que um presidente dos EUA diz é suposto corresponder a uma estratégia deliberada.

É facto que logo a seguir diversas “fontes oficiais” da Casa Branca, em jeito de “brigada de clarificação de interpretações”, dedicaram-se a tentar convencer os jornalistas que acompanham Biden de que o que o presidente tinha querido dizer não é exatamente o que eles escutaram.

Esses assessores e conselheiros repetiram que a posição oficial dos EUA continua a ser a mesma: o reconhecimento de “uma só China”, a de Pequim, conforme a “One China Policy”.

Por mais que o “staff” da Casa Branca tenha procurado matizar a rara dureza no pronunciamento de Biden — e se o fez foi certamente com a aquiescência do presidente —, parece óbvio ele quis avisar Pequim sobre o que os EUA fariam em caso de invasão de Taiwan pelas forças de Pequim.

Fica no horizonte a ameaça de uma guerra entre os EUA e a China quando ainda não está afastada a ameaça de conflito direto entre os EUA e a Rússia pela questão da Ucrânia?

É um sobressalto que sobe no cenário geopolítico global.

É de antecipar que a China vá invadir Taiwan? A questão continua no campo das inquietantes incertezas.

Está fora de dúvida que Pequim quer assumir o controlo desta ilha com alto valor estratégico e que o poder chinês considera ser integrante da República Popular da China.

O problema complica-se ao termos em conta que o poderoso número um chinês, Xi Jinping, declarou que a questão de Taiwan “deve ser resolvida” pela atual geração. A dele. Portanto, nos próximos tempos.

Taiwan mantém a inflexível recusa da reunificação.

Assim sendo, o que esperar?

A declaração de Biden, imediatamente matizada pelos assessores dele, faz parte de uma guerra de comunicação já aberta?

É um aviso a Xi para que não faça com Taiwan o que Putin iniciou com a Ucrânia? Assim sendo fica claro que em caso de agressão chinesa a Taiwan a reação americana será de intervenção direta e não apenas indireta como está a acontecer com a Ucrânia.

Será que Xi Jinping, desafiado por Biden, vai responder-lhe?

Há vários fatores a ter em conta de um lado e do outro.

A China está em crise económica, está em séria dificuldade com a Covid e Xi ambiciona a máxima consagração e terceiro mandato no congresso do PC chinês em outubro.

Biden está em campanha para as eleições intercalares de novembro onde corre sério risco de perder o controlo — que é tangencial — do Congresso.

Quando se esperava que a tensão entre o Ocidente e a Rússia levasse à baixa da crispação entre os EUA e a China, o que acontece é o contrário.

Estamos a entrar cada vez mais num mundo em ampla Guerra Fria — em que a guerra total não é de excluir? O  mundo está perigoso, inquietante.

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