Conteúdo. O conteúdo tem de ser parte do processo e a redação tem de perceber isso e ser parte dessa mudança, com um pé nas notícias e outro na tecnologia.

Começa com a pergunta: que problemas estamos a tentar resolver e a quem? Aceitar que ser um publisher moderno é tanto sobre a embalagem e a distribuição de conteúdo editorial, como sobre a qualidade do próprio jornalismo.

Apostar em narrar as histórias em multiplataformas digitais, pensar nas plataformas móveis e construir comunidade. Não passa por estar em todas, mas ser inteligente e criterioso sobre onde e como estar. Produzir para o Facebook é diferente de produzir para o Snapchat. Se torceu o nariz quando leu "snapchat" então temos um problema ainda maior.

Comunidade. Comunidade implica começar uma conversa com os leitores. E isso implica outras coisas como medir o que as pessoas fazem nos espaços digitais, o que as faz falar, o que as faz felizes ou o que lhes causa indignação. E, em seguida, dependendo dos interesses dos leitores e da análise da sua reação aos conteúdos, poder definir, juntamente com a sensibilidade da redação, o conteúdo, as plataformas e as ferramentas a serem utilizadas para apresentar a proposta informativa.

Este formato de equipa, chamemos-lhe "equipa de engagement" que, quando acontece algum evento, por exemplo, um atentado, verifica informações, promove artigos nas redes sociais, gere os comentários dos utilizadores e, simultaneamente, aproveita o feedback online e as métricas e os reencaminha para os seus colegas das várias secções teria de ser obrigatória em qualquer meio. Se não estamos a ouvir a nossa audiência, esta vai buscar a sua informação a outros lugares.

O ElDiario.es tem mais de 19.000 sócios que pagam um mínimo mensal de 5€ para ter jornalismo investigativo e abordagens diferentes dos outros meios. Um meio com muito pouca hieraquia, com uma base tecnológica forte e com 19.000 sócios que, mensalmente, representam quase 40% das receitas.

Podemos chamar a este diálogo uma espécie de User Experience (UX): começar um diálogo. As histórias são efetivas se as pessoas as lerem. Perguntar às audiências que preocupações e interesses têm, que histórias gostariam de ver e porquê e deixar de achar que sabemos o que a audiência quer.

Formato. Temos de deixar de pegar em notícias pensadas para papel e forçá-las a encaixar num formato digital, seja num telemóvel ou no ecrã de um computador. Já que estamos nisto, as páginas ou sites são uma parte deste ecossistema, mas cada vez menos. O consumo de notícias em plataformas mobile está, no hemisfério norte e em grande parte da América Latina, acima dos 65% .

Temos de encontrar os nossos leitores onde eles estão e moldar a nossa proposta para esses espaços informativos, publicar em várias plataformas, nem que seja para medir o impacto e ajustar em função disso. Perceber que os nossos utilizadores ou leitores vão interagir com a nossa marca de uma ou de outra maneira, seja num formato como o podcast - que bebe dos programas clássicos de radio, como a série "Serial" -  ou em realidade virtual como o 6x9 do Guardian que replica, por exemplo, a experiência de estar confinado numa cela de prisão.

Para isso os meios têm de ser flexíveis e não um barco pesado, incapaz de mudar de direção quando necessário. É preciso fazer com que a redação seja um verdadeiro tripé assente em tecnologia, design e, claro, jornalismo, com editores com poder e responsabilidade e assegurar-se de que coloca os utilizadores e as suas necessidades no centro de tudo que faz. Temos também de ter uma relação descomplexada com a tecnologia e fazer com que os jornalistas, os designers e os, por dizê-lo de alguma maneira, programadores percebam um pouco do que o outro faz.

Temos de ter mais jornalistas programadores, jornalistas designers, programadores jornalistas e outras combinações possíveis a trabalhar juntos, no mesmo espaço físico, percebendo os desafios e as necessidades do meio. A tecnologia não é um monstro, mas também não é uma panaceia nem um brinquedo novo para se mostrar. Frases como "temos um CMS novo extraordinário" ou "já viram a nossa nova app!" podem ser sinónimo de estarmos a levar um fórmula 1 como carro de ir ao supermercado. Nenhuma app ou CMS (sistema de gestão de conteúdo) serve para o que seja senão estiver pensado para as necessidades do meio e os desejos da audiência.

Velocidade. Alguém que comanda uma redação tem, constantemente, de pensar na velocidade. Um segundo a mais a fazer o upload do nosso conteúdo é tão importante aqui como numa corrida de 100 metros: a diferença entre ganhar a audiência ou ser só mais um a debitar conteúdos. Um processo com várias vantagens é limpar o "site" de tudo o que não é essencial. Depois é preciso que a redação se envolva no processo, de maneira a perceber que tem de haver um critério e que todos os dias se fazem escolhas.

Nunca se teve tanto acesso à informação como agora e nunca existiu um público tão informado e exigente como agora. O caminho são "caminhos" e fazem-se em constante adaptação. O futuro passa mais por ser um veleiro rápido, capaz de mudar de direção rapidamente e adaptar-se às condições que encontra em vez de um cargueiro enorme, com milhares de homens e um hierarquia pesada.

 Nuno Vargas é designer, jornalista e uma coisa chamada Digital Strategist. Trabalha com meios novos e antigos, entre os EUA, a Nigéria ou Argentina, apesar de chamar casa ao Porto. Se não estiver num avião podem encontrá-lo a optimizar os dados sobre migrantes da IOM em Genebra, a relançar a operação do TN.com.ar, em Buenos Aires ou no estádio do Dragão. Ah, sim, e também aqui @nunovargas.

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