Ontem, dia 10 de Março, estava a vaguear pelas redes sociais e vi uma publicação que parabenizava o actor Chuck Norris pelo seu 81.º aniversário. A primeira coisa que pensei foi "Logo vi que ele só podia ser peixes como eu!". Estou, obviamente, a brincar, pois quem acredita e se guia pelos signos merecia um pontapé rotativo na nuca. O que pensei foi "81!? Já está velho". O que, lendo nas entrelinhas, significa "81? EU estou mesmo a ficar velho…".

Chuck Norris é um herói da minha juventude devido à porrada que arriava nos maus da fita, fosse ela fita televisiva ou de cinema. Talvez as mais emblemáticas sejam o Desaparecido em Combate, Delta Force e a Fúria do Dragão, com Bruce Lee, outro herói de infância e adolescência. Apesar dos filmes, Chuck Norris ficará eternamente conhecido pelo seu papel na série Walker, o Ranger do Texas, onde ele era uma espécie de Macgyver, mas de barba, e em vez de resolver as coisas com um canivete suíço e um atacador de sapato, resolvia com um pontapé rotativo no ar. O que mais impressionava em Chuck Norris é que ele era capaz de aviar cinco ou seis mauzões, através de pontapés elásticos mesmo usando calça de ganga. Só mesmo ao alcance dos maiores.

A maioria dos rapazes da minha idade tinha estes heróis: homens que resolviam tudo à base da porrada. No entanto, Chuck Norris era uma espécie de sucedâneo até porque não tinha cara de herói de acção, tinha cara de turista alemão no Algarve. Steven Seagal era outro de quem eu gostava, mas não tanto, pois sempre achei que lutar de rabo de cavalo era um convite ao adversário para nos controlar a postura. Os preferidos eram Van Damme, Bruce Lee, Jackie Chan e, claro, Arnold Schwarzenegger que, apesar de não saber artes marciais, era capaz de derrotar sozinho um exército de 200 homens só para salvar a sua filha. O filme Comando continua a ser daqueles filmes que tenho de ver até ao fim se estiver a passar na televisão, ignorando o facto de que na vida real o Arnold ficaria cansado ao fim da primeira corrida pelo mato devido a tanta massa muscular.

Esses nossos heróis foram ficando mais velhos, nós também, e fomos apercebendo que era tudo um bocado falso. Por exemplo, Chuck Norris escreveu vários livros sobre o Cristianismo e fez vários anúncios de televisão para promover o estudo da Bíblia e a oração nas escolas públicas norte-americanas. Como é que um cristão devoto poderia aplicar tanta violência para resolver os problemas? Todos sabemos que os cristãos são completamente pacíficos e tolerantes e que perdoam tudo… Vamos crescendo e descobrimos que Van Damme era toxicodependente e Arnold só tinha aquele corpo devido a esteróides. Descobrimos que Bruce Lee nunca ganhou combates na vida real e que aquela cena do one inch punch era meio treta. Todos os nossos heróis eram fakes. Só falta descobrir que o Batatinha não aviou mesmo o Companhia à porrada para morrer mais um herói da acção da minha juventude. Quem usa aquele cabelo espetado merece apanhar, não digam que não. Sobra Jackie Chan que fazia as suas próprias cenas arriscadas, o que lhe deu bilhete para o hospital várias vezes. Corajoso ou burro? Agora com olhos de adulto é complicado não admirar, mas pensar que possa ser a segunda hipótese.

Fala-se muito agora de inclusão e representatividade no cinema e o que é certo é que, sem notarmos, sempre admirámos heróis de acção de todas as formas e feitios. Sigourney Weaver, na saga Alien, talvez seja um dos melhores e mais reais heróis de acção dos filmes que nunca ninguém reparou que era mulher, não porque não parecesse, mas porque o filme e a personagem eram tão bons que isso nem interessava. Havia também inclusão de pessoas com deficiência, como é o caso do Sylvester Stallone que, devido ao seu parto com fórceps, tem uma fala meio atrofiada, o que acaba por ficar bem na personagem de Rocky que passa a vida a levar pancadas na cabeça e é normal que sejam meio taralhoco.

Bem, mas parabéns ao Chuck Norris. Milhares de piadas foram feitas com ele, exagerando a sua força ao extremo, mas agora, com 81 anos, está com cara de um dos seus adversários na tela de cinema, meio desfigurada devido às operações plásticas. Parece um cadáver que foi retirado do rio depois de semanas desaparecido. Mesmo os maiores heróis, capazes de derrotar tudo e todos, não conseguem derrotar o tempo.

Sugestões:

Para ver: Documentário High Score, na Netflix

Para rir: Último episódio do consultório sexual do Doutor G, no YouTube