A coisa é relativamente simples. Um dia nascemos, depois somos crianças e adolescentes e, se tivermos sorte, temos uma família que nos ama, que se enternece connosco, que vê em nós o melhor do mundo e, por causa disso, quando as coisas correm bem, nos faz acreditar que podemos ser o melhor, não do mundo, mas para o mundo.

Vamos crescendo, estudamos, começamos a trabalhar, temos os nossos amigos, os nossos planos, as nossas promessas por cumprir. Somos independentes e, se tudo correr bem, somos melhores nessa independência, porque o tal colinho continua lá e podemos ir mundo fora.

E, independentes, vamos mundo fora, provando essa liberdade que é ser jovem, adulto, dono de si próprio, com tanto para fazer.

Passa mais um tempo e, um dia, somos mães, somos pais, somos uma nova família.

Enternecemo-nos com um novo ser humano que nunca foi um estranho para nós, que parece que sempre esteve ali (e não esteve?). Vemos o melhor do mundo nele e, se tudo correr bem, esse ser humano vai crescer a acreditar que pode ser o melhor, não do mundo, mas para o mundo.

E nós, independentes, tornámo-nos dependentes dessa droga boa que é criar alguém para ser o melhor para o mundo e ainda termos como bónus nos tornar melhor a nós próprios.

Até que um dia, a história se repete quando já nos tínhamos esquecido como é que era ser independente.

Nunca mais voltaremos a ser independentes como já fomos nesse breve momento em que não éramos os “filhos pequenos” e ainda não éramos “os pais de filhos pequenos”.

Eles agora são crescidos, nós agora devemos voltar a ser independentes, mas nunca mais será como antes e muitas são as vezes que não sabemos bem o que fazer com essa suposta liberdade.

Agora seremos para sempre dependentes, deles e dos que virão a seguir e nem quereríamos que fosse de outra maneira.

A maternidade é, provavelmente, a melhor chave para entender o universo e o que andamos aqui a fazer. Somos mães para que a humanidade possa compreender um conjunto de coisas que, estando à nossa vista, poderíamos não conseguir alcançar se não existisse essa condição.

E, provavelmente, chegámos até aqui, porque somos mães desde o inícios dos tempos. A biologia é a história celular, mas o que nos trouxe até aqui é um sentimento maior que nos fez cuidar uns dos outros.

Se por alguma ficção distópica a humanidade não tivesse mães e, com elas, o imperativo kantiano que é o bem dos filhos, talvez a loucura que tantas vezes nos cega já tivesse dado cabo disto tudo.

P.S. - Pais, avós, padrinhos, tios e família em geral, isto é sobre vocês também. É a mesma e outra coisa, e essa é também a beleza do que andamos aqui a fazer.