Tebet está a negociar com a campanha de Lula e a possibilidade de acordo passa pela formação do futuro governo brasileiro com perfil social-democrata com abertura a diferentes esquerdas, robusto para enfrentar o Congresso mais radicalizado onde o bolsonarismo passa a ser mais forte . 

Esse perfil moderado, social-democrata, corresponde ao modelo de frente ampla, com esquerdas e centro, que interessa a Lula nas atuais circunstâncias do Brasil e da América Latina, portanto é provável o acordo que leve Tebet a apelar o voto em Lula. Mas o apoio da senadora não garante que a transferência de votos – embora provável – seja maciça.

Os eleitores que não votaram e os que já não têm candidato também têm peso determinante. Quem vai ser mais capaz de, com coerência, segmentar a mensagem política para atrair o voto desses “órfãos políticos”? É uma das incertezas para a definição do resultado em 30 de outubro.

As sondagens sobre a primeira volta foram enganadoras: davam Lula com à volta de 14 pontos percentuais de avanço, afinal Bolsonaro ficou a apenas seis pontos. Há muita gente a ocultar a intenção de voto.

O bolsonarismo está empolgado com a confiança disparada pelo facto de ter ganho às sondagens e por larga margem. Mas, de facto, o rival que vilipendia continua na frente, com mais seis milhões de votos.

O lulismo está dececionado, porque, apesar de ter ganho a 1ª volta com larga vantagem, Lula falhou a eleição à primeira pela diferença de apenas 1,7 pontos percentuais. A desilusão é agravada por o rival tão detestado ter recebido muito mais votos do que o esperado e ter ficado numa posição que o mantem com possibilidades de eleição.

Agora, tudo volta ao princípio para a eternidade de quatro semanas de campanha que vai ser duríssima, cheia de veneno.

Bolsonaro parte com o bálsamo de ter saído da prova eleitoral com mais vida política que o esperado.

Lula tem o ímpeto da vantagem de mais de seis milhões de votos.

Para os eleitores, estas quatro semanas finais de campanha vão ser um massacre. Tal como já aconteceu no último mês, em vez de debate de ideias tudo vai ser arrastado para o beco sem saída da polarização extremada assente em ataques pessoais carregados de ódios que propagam veneno que excita a violência.

Estas quatro semanas de campanha estão destinadas a ser um campeonato de ódio do qual vai sair presidente aquele que conseguir ser menos repudiado. 

É a triste realidade de um país com dimensões continentais, tesouro da natureza, rico em reservas de energia e enorme potencial para produção de alimentos. Mas é um país massacrado por fome e pobreza – já se viu que é possível conseguir eficácia no combate a estes dois males.

A melhor notícia do domingo eleitoral de 2 de outubro: apesar da alta rivalidade e tensão, o processo eleitoral foi tranquilo como deve ser. Pode ser que a campanha ainda nos surpreenda – mas nada o sugere.