Uma mulher que, para muitas de nós jornalistas, é uma inspiração. Fez carreira profissional nos jornais com um enorme sentido de liberdade. Começou a trabalhar em 1968 no Diário Popular, foi das primeiras mulheres a trabalhar nas redacções.
Foi ativista antes do tempo, quero dizer antes da palavra ativista ser aquilo que é hoje. Dar a cara e escrever sobre aquilo em que se acredita não era receita para uma vida pacífica antes do 25 de Abril, mas Maria Antónia Palla nunca teve medo e nunca se quis calar. Em 1976 fez história na televisão portuguesa com a reportagem Aborto Não É Crime, parte integrante da série documental Mulher. O programa foi suspenso, Maria Antónia Palla alvo de todas as acusações. Foi a tribunal e a absolvição só aconteceu em 1979. O processo judicial contra Maria Antónia Palla foi uma rampa de lançamento para a campanha para a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
Foi uma das primeiras jornalistas mulheres a sindicalizar-se. Assumiu a direção da Caixa de Previdência dos Jornalistas durante 11 anos. O governo PS acabou com a Caixa de Previdência. Maria Antónia Palla nunca deixou de contestar esta decisão.
Escreveu reportagens que se tornaram icónicas, algumas publicadas e reeditadas em livro ( Só Acontece aos Outros – Histórias de Violência, edições Sibila). Sempre gostou de ouvir as histórias das pessoas, sem distinção. Denunciou e relatou casos de violência doméstica, defendendo as mulheres e assumindo-se como feminista. Militante do Partido Socialista, é mãe do actual primeiro-ministro, António Costa, de quem discorda publicamente sem qualquer problema. É o seu sentido de liberdade. Concorda com o que concorda e concorda que discorda com uma graça que poucas pessoas podem reclamar. O silêncio não é a sua escolha. O riso sim, o riso é parte desta mulher ímpar que gosta de conversar horas infinitas e que considera a política uma maneira de estar. Porque o mundo lhe interessa, porque considera que todos os gestos são políticos, porque estar vivo é fazer, é mudar mundo.
Escrevemos a quatro mãos a sua biografia, Viver pela Liberdade, edições Matéria-Prima, e fomos felizes nas horas de conversa que tivemos, no que partilhámos. A minha admiração por ela é imensa porque lhe invejo a liberdade e o espírito, porque aos 90 anos mantém a frescura e a curiosidade intensa que a leva a querer entender o outro. Continua a trabalhar e não pensa em descansar, não é um verbo que lhe interesse. O futuro é sempre mais interessante se tiver ideias, se existirem histórias novas para ouvir e sobre as quais escrever. Maria Antónia Palla fez 90 anos, celebremos!
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