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Neste domingo ficou comprovado que não é apenas a pressão internacional. Nas praças, avenidas e estradas de Israel também se notou como há uma visível oposição interna à guerra infinita de Netanyahu a ocupar e arrasar Gaza, em modo que faz dilacerar a sociedade israelita. Os organizadores deste dia de protesto, encabeçado pelo movimento que exige o acordo que traga de volta os reféns ainda mantidos em Gaza, anunciam a participação de 2,5 milhões de pessoas, número que representa 25% da população de Israel.

Não é possível verificar a dimensão rigorosa da adesão ao protesto, até por ter estado espalhado por dezenas de lugares em Israel, mas ficou evidente a participação intensa.

Os domingos são em Israel o primeiro dia da semana laboral. Neste domingo de protesto muitas lojas não abriram a porta e muitas empresas, centros educativos e várias instituições não funcionaram. Houve bloqueio de várias estradas, entre elas a A1, a autoestrada principal que liga Telavive a Jerusalém. A agitação prolongou-se por todo o dia, também com manifestações em frente às residências de alguns ministros. Foram colocadas 49 cadeiras vazias, uma por cada refém ainda no cativeiro, diante da casa de Netanyahu.

O nome de cada um dos reféns foi sucessivamente repetido na concentração de manifestantes que abarrotaram a praça frente ao Museu de Arte de Telavive, agora conhecida como “praça dos reféns”. As imagens sustentam que ao fim da tarde estariam concentrados uns 500 mil manifestantes que se distribuíam pela praça e pelas ruas vizinhas, erguendo cartazes com a fotografia dos reféns.

“Trazer todos de volta” e “Pôr fim à guerra” são as palavras de ordem mais repetidas.

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Esta mobilização, a maior de todas nestes 681 dias passados sobre o bárbaro ataque do Hamas em 7 de outubro, foi organizada após a decisão do governo de Netanyahu, há 11 dias, de lançar nova ofensiva contra o Hamas na terra palestiniana, e de aí tomar o controlo da cidade de Gaza e das zonas envolventes.

“O governo de Israel nunca teve vontade sincera de acordo global para trazer os reféns e pôr fim à guerra”, acusou Einav Tzangauker, mãe de Matan, um dos reféns, a abrir os discursos na grande praça de Telavive.

“O país inteiro [Israel] está a desintegrar-se, a nossa imagem no mundo mudou completamente, está pior do que nunca, e isso basta", lastimou logo a seguir um outro familiar dos reféns.

Outros pais manifestaram preocupação com o destino dos próprios filhos, convocados para o exército israelita para o anunciado assalto final a Gaza.

O clamor generalizado entre os manifestantes é "lutar em Gaza já não faz sentido, ocupar a Faixa é uma loucura, acabem com a guerra e assinem o acordo para trazer os reféns".

Esteve presente uma das reféns israelitas libertadas em Gaza, Ilana Gritzewsky, que há duas semanas organizou o casamento simbólico, em Telavive, com o namorado, que permanece refém nas mãos do Hamas.

Cada vez mais reservistas estão a recusar a chamada para regresso ao serviço, cada vez mais soldados recusam-se a combater em Gaza, onde tudo já foi destruído por 22 meses de bombardeamentos, e cada vez mais israelitas temem a crise económica provocada pela custosa máquina de guerra do governo Netanyahu.

A estrutura democrática do Estado de Israel permitiu que esta jornada de protesto se concretizasse, mas a polícia tratou de abrir, com canhões de água, as estradas bloqueadas pelos manifestantes.

Enquanto decorria a jornada de protesto, Netanyahu presidiu à reunião semanal do conselho de ministros. No final, mostrou que da parte dele e do governo ultra nada tinha mudado: "Aqueles que hoje apelam ao fim da guerra sem derrotar o Hamas não estão apenas a fortalecer o Hamas e a atrasar a libertação dos nossos reféns, mas também a assegurar que os horrores de 7 de outubro se repetirão continuamente".

Netanyahu mostra que não será ainda este protesto a atrapalhar realmente os planos dele. Mas fica exposto algo que estava por evidenciar: o sinal de que, afinal, há muita gente em Israel que se opõe à liderança guerreira de Netanyahu. Se a Europa que nesta segunda-feira vai a Washington, perante Trump, fazer escudo a Zelensky e à Ucrânia, vier a assumir firmeza idêntica sobre a questão palestiniana, talvez possa contribuir para, finalmente, alguma solução deste conflito.