O melhor é estar calado.
Foi talvez isso que aconteceu a tantas actrizes que, durante anos, calaram as situações de pressão e assédio de que foram alvo, até a bolha rebentar no final do ano passado. Obviamente que nos questionamos sobre as razões que as levaram ao silêncio. Calar, por medo, pressão ou chantagem é compreensível. Aguentar porque há contas para pagar, como referiu Oprah, talvez... Oprah Winfrey afirmou, no seu já famoso discurso nos Globos de Ouro, que as mulheres foram, durante muito tempo, ignoradas e desacreditadas em relação a esta questão mas, na verdade, bastou uma hashtag no Twitter (#meetoo) e uma reportagem do jornal New York Times, para criar uma onda que, rapidamente, se tornou um tsunami.
E porque não antes, acusam alguns, usando a hashtag #WeAllKnew, criticando também uma fotografia de Oprah, alegremente dividindo as atenções com Harvey Weinstein, manipulando imagens, acusando Meryl Streep de saber do que se passava (“she knew”), ou censurando Justin Timberlake por ser o protagonista do novo filme de Woody Allen. Hollywood é mesmo assim e nós vamos atrás, glorificando a cerimónia. Mesmo que parte da mensagem fique perdida, que as nossas preocupações sejam a conta da electricidade ou o aumento dos impostos, esta cerimónia dos Globos de Ouro vai muito além da entrega dos prémios.
A(s) indústria(s) está repleta de pessoas com medo de revelar o que lhes acontece, silenciadas pela espiral do silêncio do preconceito que as culpabiliza, que desvaloriza os actos, que lhes diz que são umas convencidas que interpretaram mal o comentário, ou umas histéricas a quem não se pode tocar. O assédio moral e sexual existe. Esta cultura de silenciamento e vergonha tem de ser substituída pela justiça restauradora de que se falava na cerimónia dos Globos de Ouro. É preciso denunciar, mudar mentalidades, garantir que qualquer pessoa vítima de assédio não tenha medo, que não tenha vergonha e, principalmente, que não se culpabilize por isso.
Palmas para Oprah? Tenho para mim que o seu discurso procurava ir mais longe do que a denúncia, apelando à liberdade de pensamento e de expressão, apontando o dedo ao jornalismo e ao marasmo em que aceitou viver, ao discurso de ódio, racismo e xenofobia, lembrando que as maiores vítimas do sistema não serão as actrizes de Hollywood, mas as mulheres que, na sociedade, não têm voz.
Talvez também não seja coincidência a noite ter sido de “Big Little Lies”, com actrizes #metoo no elenco, representando uma indústria em que os sonhos, tantas vezes, se confundem com a realidade e uma narrativa que retrata abusos que também acontecem na vida real. Curiosamente, também continuam a ser mais homens nomeados para os Globos de Ouro e, dos que receberam o prémio, apesar do smoking (preto, obviamente...) nenhum fez referência à questão que pairava no ar durante a cerimónia: nenhum, parece, será #metoo ou talvez ainda não seja, para estes homens, #timesup.
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