O jeito que tinha dado a Salazar ter uma pandemia durante os tempos em que foi ditador de Portugal. Não vou falar das medidas de confinamento e de proibição de ajuntamentos — porque isso já havia e Salazar nunca tomaria medidas para proteger as vidas da população. Caso o fizesse, teria tentado travar aquela epidemia do Estado Novo que era a fome e a iliteracia.

Todos sabemos, devido àquela série em que Diogo Morgado fazia de Salazar, que o nosso ex-ditador era um mulherengo que gostava de seduzir. Se juntarmos isso ao facto de ele ser um beato do pior é quase certo que não usava preservativo por ser pecado. Se juntarmos isso ao facto de ele ser um beato do pior é quase certo que não usava preservativo por ser pecado, como muitos padres fazem, apesar de depois, quando lhes dá jeito, obrigarem as mulheres a abortar. Não estou a dizer que Salazar também era assim, atenção, não me processem já por ofensa à memória de pessoa falecida, estou só a dizer que a coerência dos fanáticos religiosos e déspotas que dizem servir o país normalmente não é a melhor. Bem, mas isto sou eu a especular que da vida sexual de ditadores não sei grande coisa (até porque normalmente não é muito interessante e está carregada de frustrações, daí terem enveredado pelo caminho da ditadura para terem poder em algum sítio já que no meio das pernas são de baixa patente).

Por tudo isto, Salazar deve ter deixado muitos descendentes e, prova disso, é o que temos visto com esta pandemia, especialmente sempre que há o mínimo de desconfinamento. Exemplo: as esplanadas abriram e, como seria de esperar, as esplanadas ficaram cheias. Quais os primeiros comentários? “Esplanadas cheias! Parece impossível! As pessoas não respeitam nada. Isto vai ser bonito, vai, daqui a 15 dias estamos todos em casa outra vez!”. O tuga reage à pandemia como reage ao Europeu de futebol que é com aquela mentalidade do “Não jogamos nada, daqui a pouco tempo já estamos em casa outra vez!”. Ficou aquela baixa auto-estima do período da ditadura. Nem nisso Salazar foi bom ditador: Hitler e Estaline fizeram o seu povo, apesar da miséria, acreditar que eram os maiores do mundo! Salazar fez os portugueses acreditar que eram muito pequeninos e sem ambição para crescer.

Em relação às esplanadas cheias, é certo que haverá quem não respeite as medidas e se amontoe em esplanadas sem distanciamento nem cuidados, mas andamos nisto há mais de um ano. Onde está a surpresa? Queriam que as pessoas ficassem em casa quando o Governo, depois de consultar especialistas, diz que se pode ir a esplanadas? A malta ia por turnos? Organizava-se em grupos de WhatsApp e íamos todos à vez tomar café? Não faz sentido. Depois, pode ser um falso problema, porque eu acredito que aquela malta que não tem o mínimo cuidado e respeito pelas normas nas esplanadas é o mesmo que se durante o confinamento se juntava em casa de amigos e fazia festas ilegais.

Vemos pessoas a tirar fotografias às esplanadas e a publicar nas redes sociais e vemos essas fotos a ser partilhadas amplamente, sem qualquer preocupação com o ângulo que pode ser enganador ou mesmo se são de agora ou antigas e apenas mais uma partida da Internet. Imaginem as inscrições para a PIDE que Salazar teria tido caso tivesse a sorte de ser ditador durante esta pandemia. Pessoas que ligam para a polícia a dizer que a esplanada tem seis pessoas por mesa em vez de quatro ou que estão a ouvir passos de oito pessoas no andar do vizinho de cima. A pandemia conseguiu tornar muita gente em agentes da PIDE dos trezentos, em chibos e bufos a full-time, mas de estágio não-remunerado. Depois, vêem uma fotografia ou duas na Internet e conseguem inferir o comportamento da maioria dos portugueses e, além de agentes da PIDE, transformam-se em epidemiologistas e matemáticos que estudaram na Escola da Vida. 

No entanto, a descendência que Salazar deixou e que me faz mais confusão é aquela que se vê nos genes das pessoas que dizem “Esplanadas cheias e ainda dizem que não há dinheiro!”, resquícios daquela mentalidade salazarista que queria um povo na miséria, sem luxos e nivelando todos por baixo. Com estas pessoas, ficamos a saber que quem tem dinheiro para ir beber um café e comer um palmier coberto é praticamente milionário com dinheiro para luxos megalómanos. No Dubai, compram-se ilhas e carros desportivos para ostentar riqueza, em Portugal pede-se uma UCAL e um pastel de nata para esfregar na cara das invejosas pobretanas. Tal como a vida sexual dos ditadores, também a vida sexual das pessoas que pensam assim deve ser muito tristonha.

“Ah, mas um café todos os dias já viste o que dá no fim do mês?”. Ainda dizem que Portugal é um país de maus gestores, mas no que concerne a gerir o dinheiro dos outros somos óptimos. Sim, eu também já vi um senhor a meter 2 euros de gasolina e a pedir um maço de tabaco e pensei “Prioridades…”, todos nós temos um bocadinho desse gene salazarista. Se todos nós temos Amália na voz, até mesmo a Maria Leal, como dizia António Variações, então todos nós temos Salazar algures no corpo. Nuns está entalado na garganta, noutros está entalado noutro sítio. Se calhar está no apêndice ou assim, não serve para nada a não ser para incomodar de vez em quando.

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