Como a fila para o atendimento ainda é longa, fico a saber que a questão gira à volta de três crianças e que não existem avós na moldura que possam socorrer estes pais. E apuro ainda tabelas de preço para entreter infantes.
Campo de férias com praia? “Devíamos tê-los inscrito mais cedo, não vamos apanhar nenhum com vaga, muito menos os baratos!”, lamenta-se o senhor.
O Atelier de Tempos Livres, vulgo ATL, espaço que fica do outro lado da rua, pede cerca de 400 euros mês para ficar com os miúdos, mas, diz a senhora, as actividades não serão do agrado de todos. “O Rafael vai odiar ficar com os mais novos”. Deduzo que o Rafael esteja quase a chegar a essa apoteose que é a adolescência, época infeliz da vida de muitas mães, já que falar com um adolescente é o mesmo que dar banho a um peixe.
O casal bebe os seus cafés (a mãe não resiste a um pastel de nata, dado que corre veloz a notícia de que estão mornos e acabados de chegar) e mantêm um ar sisudo e pensativo.
Uma das grandes alegrias de trabalhar para mim mesma é ter conseguido gerir os horários e calendários escolares sem depender de ATL ou campo de férias, sem sobrecarregar a minha mãe. Longe vai o tempo em que tinha de me preocupar com o que os meus filhos iam fazer no Verão ou nem por isso, mas reconheço que não é tarefa fácil e, caso não exista liberdade de movimentos para coordenar os tempos livres dos filhos, são dispendiosas todas e quaisquer actividades.
Como é que um casal com três filhos dispõe de 400 euros x três para garantir que os miúdos estão ocupados? São mil e duzentos euros por mês, valor que excede muitos, muitíssimos, ordenados neste nosso país. Vou com esta questão na cabeça e acabo por fazer uma pequena sondagem familiar: quem, dos meus amigos com filhos pequenos, irá gastar uma fortuna em actividades extra?
Alguém me sorri e confessa que tem muita sorte, “a escola está aberta em Agosto”, assim os miúdos irão apenas de férias com os pais 15 dias. Outro amigo responde-me, quase com maus modos, que “nem quero pensar nisso”. Fazem falta os avós, garante-me uma amiga, 31 anos, um filho com 4. “A minha mãe trabalha, tal e qual como nós, não posso contar com ela”. Outra diz que irá ter uma conversa com o chefe para levar a criança consigo para o local de trabalho e outra tem uma vizinha reformada que ficará com seus filhos a troco de pouco dinheiro: “Só dinheiro para comprar gelados ou para ir com eles à praia”. Por fim, alguém me diz que inscreveu os filhos em actividades na escola pública que frequentam e que as actividades “até são giras”. E outra mãe quer recorre ao Inatel sabendo de antemão que não é um custo excessivo, embora os filhos refilem todos os dias.
Eu fico na minha: pobres crianças que não têm pais ricos, pobres pais que não têm crianças super heróis capazes de se entreter em segurança sozinhas.
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