Esta proposta é, de facto, de uma elevação extraordinária. Elevação mesmo, no sentido de quem vive num pedestal acima desses plebeus que sonham um dia andar na faculdade, quando nem sequer sabem o mínimo de biologia para conseguir distinguir um crocodilo de um cavalo com um jockey em cima. Porque para o CDS, pior que ser burro, só mesmo ser pobre. Se for pobre e burro, então também é só fazerem-se mais propostas como estas e, por consequência natural, o fosso social entre classes acabará por se agigantar, para depois afundar num poço de lama onde só cai quem não usa camisa branca e calça bege, essa gente que não tem dinheiro sequer para coisas básicas como mandar de Uber os filhos para a escola ou pagar-lhes um God InterAir, que é um InterRail só que para visitar uma série de arquidioceses europeias de jacto privado.

Agora, se o objectivo é realmente estratificar cada vez mais a sociedade, em prol de uma sociedade em que a ausência de pessoas que cheiram a fritos e usam os saldos para comprar roupa é uma realidade, o CDS precisa de lançar mais propostas deste calibre positivamente elitista. Aproveito aqui esta crónica para lhes dar duas boas ideias. E nem sequer têm de me pagar por isso, que é para este tipo de alturas, e de causas, que o socialismo serve. Vamos às ideias.

Possibilidade de se pagar nos hospitais pela cor de pulseira nas urgências. Temos uma gripe e temos dinheiro, mas temos um hospital público mais perto do que um privado. Vamos lá, pagamos para ter pulseira vermelha e os pobres que chegam a morrer de ambulância só porque tiveram um acidente nos seus Fiat Punto sem airbag, com sorte, ficam com uma amarela.

A outra: acabar com as forças de segurança pública e permitir a existência apenas das privadas. É uma espécie de darwinismo. Quem tiver dinheiro para pagar pela sua segurança, bom para si. Quem não tiver, vai ter que lutar pela sobrevivência. Isto vai fomentar essencialmente o crime entre pobres o que levará também, gradual e felizmente, à sua redução. Sobrevivem os mais fortes (como quem diz, ricos).

Ainda poderia ter outra, relativamente ao sistema judicial, mas não é que já não funcione bastante bem o facto de se ter dinheiro para mais facilmente se contornar as leis. Vamos deixar esta estar como está.

Portanto, e voltando à faculdade, avante CDS, e que não seja a falta de dinheiro que impeça a falta de mérito para na vida bem suceder.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- TED Talk: Carole Cadwalladr.

- The Great Hack: Netflix. O documentário mais importante e mais preocupante que vi nos últimos anos. (deixei este aqui novamente para reforçara a importância que tem).