A manifestação fascista – não há outro termo, peço desculpa, mas escusamos de não chamar os bois pelos nomes –, organizada no fim‑de‑semana passado, é apenas o retrato de uma percentagem da população que se assume como racista, xenófoba e irredutível perante factos concretos, nomeadamente as contribuições fiscais e outras de emigrantes. Também é irredutível no mau carácter, porque não podemos dizer que toque a estas criaturas uma célula de humanismo, de amor pelo próximo. Quantas delas irão bater no peito ao domingo, na missa? Não sabemos, nunca faremos essa contabilidade, mas sabemos que muitos enchem a boca com princípios cristãos, e depois é como aquela malta que faz ioga mas não diz bom dia ao segurança do prédio onde trabalha. É vergonhoso que tenhamos tantas pessoas a acreditar num discurso populista e a advogar gestos de violência com a facilidade com que debitam mentiras e insultos. Em 50 anos de democracia onde está a democracia?
“(…) considera-se que perfilham a ideologia fascista as organizações que, pelos seus estatutos, pelos seus manifestos e comunicados, pelas declarações dos seus dirigentes ou responsáveis ou pela sua actuação, mostrem adoptar, defender, pretender difundir ou difundir efectivamente os valores, os princípios, os expoentes, as instituições e os métodos característicos dos regimes fascistas que a História regista, nomeadamente o belicismo, a violência como forma de luta política, o colonialismo, o racismo, o corporativismo ou a exaltação das personalidades mais representativas daqueles regimes”.
Ninguém quer saber da lei?
Aceito que haja pensamentos distintos, faz parte da democracia a pluralidade de ideias, mas não fazem parte discursos de ódio, de rejeição do Outro só por ser o Outro. Gostariam de saber como iria avançar a economia do país sem emigrantes? Esses cenários não interessam? Pois, parece que não. Entre isto e a adesão da comunicação social na propagação de ideias que são anti-democráticas, porque o espectáculo mediático assim obriga, estamos conversados. O Governo faz o quê? O Governo tem o favorecimento da comunicação social neste momento. Aproveite a onda, porque também isso terminará. O drama é que o país não melhora, só piora.
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