Estamos a viver com intensidade – e pouco glamour - o folhetim da estrela da pop, Madonna, residente no Palácio do Ramalhete, à espera de se mudar com malas e bagagens (os paparazzi garantem que já esta a acontecer) para Sintra. A senhora queria um cavalo dentro de um palácio e o presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta, mandou dizer que nem pensar, enviando um parecer técnico que explica a falta de segurança e o estado do pavimento do palácio.. E ainda disse: “Em condição nenhuma deixaria entrar um cavalo no palácio, não tem qualquer sentido! A Madonna é uma artista, mas o palácio é de todos e não é para ser estragado”. Fosse o dinheiro o que fosse, fosse a Madonna a pedir ou qualquer outra pessoa. Bravo!

A subserviência face a quem tem poder ou fama é uma doença que alastra por aí com rapidez. Muitas vezes, perante exigências e arrufos é difícil de ter algum bom senso. O Presidente de Sintra pelos vistos teve. Dirão que o cavalo, coitado, não iria estragar nada (além de fazer as suas necessidades em qualquer chão onde pisasse, mas who cares?). O que importa nesta história é o que Madonna terá dito, embora eu possa aceitar que, na verdade, o que disse foi outra coisa. Quem sabe? Quem assistiu à senhora a dizer que deu muito a Portugal e que Portugal está a ser ingrato?

Soubesse ela um pouco da vida de Luiz Vaz de Camões e teria outra perspectiva. Portugal, enquanto país, não se assume como devedor de nada nem de ninguém. Ok, a senhora publicou muitos posts a elogiar Lisboa e tal, a senhora percorreu a noite alternativa, a senhora assistiu a jogos do Benfica. É indiscutivelmente uma estrela no firmamento do planeta Terra, não é uma mera concorrente a um concurso de talentos, sem desprimor para os que se candidatam. É a Madonna. Ela que tem sido maltratada ao longo dos trinta e tal anos de carreira e que invoca sempre a liberdade invejável de só fazer o que quer, como quer e com quem quer. É louvável que seja assim, é exemplar para muitas meninas e mulheres pelo mundo fora. Diria, portanto, que esta questão é de somenos. Até certo ponto.

As estrelas, por serem estrelas, também devem possuir um sentido do razoável e tentar compreender as razões que possam estar implícitas numa contrariedade. Alguns jornais garantem que Madonna não o fez, que invocou privilégios, que fez chantagem (pois se lhe devemos qualquer coisa e ela invoca essa putativa dívida é uma forma de chantagem, certo?) e que até ameaçou falar com o Primeiro-Ministro (isso é que eu gostava de assistir!). Haja paciência? Não, é melhor não existir qualquer paciência. Alguém lhe sugira colocar um cavalo no videoclip em pós-produção, por exemplo. Camões escreveu “quem quis, pôde”, é um verso que me agrada citar amiúde, mas no caso presente, lamentamos, não vai acontecer.