Sabem aquela sensação de perigo que se instala na pulsação assim que o motorista de táxi, ou equivalente, decide ir por um caminho estranho? Uma mulher sozinha num carro com um homem desconhecido. Ou então, se preferirem, a de chegar à garagem do prédio já noite cerrada e perceber que além de ti, carros e muito silêncio, está ali um homem a olhar-vos? Ou, cenário perfeitamente normal numa pandemia, vão a uma consulta e não há sala de espera ou recepcionista e o médico diz: pode despir-se. O receio até se consegue disfarçar, mas não desaparece até ao momento em que volto a sentir-me em segurança.

A maioria dos homens que conheço, se lhes conto alguns episódios similares, fica calada. Ou então diz: “Nunca tinha pensado nisso assim”. É talvez a frase que oiço mais vezes.

Evoluímos e pensamos que o século XXI nos trouxe direitos e liberdades incríveis. No Ocidente, lamentamos as mulheres no Afeganistão e em outros países. Assinamos petições e escrevemos textos. E no nosso dia-a-dia ainda vivemos situações que metem medo. Recordam-nos que, enquanto mulheres, os perigos não estão além-fronteiras, são reais. Estão aqui. Em Portugal, qualquer mulher sabe isto. Aqui mesmo, neste “país de brandos costumes”, e com uma regularidade ímpar, as mulheres são agredidas. Violadas. Mortas. A mesma regularidade com que lemos nos jornais que a Justiça ficou aquém do que seria expectável. Ou, pior, que a Justiça não ouviu a tempo alguém que pediu ajuda.

Ser mulher é perigoso.

Fazem-se estudos, publicam-se estatísticas. Passam-se leis, é verdade, mas tudo é insuficiente, tudo fica longe de uma possibilidade de segurança. Há uns tempos, já em pandemia, tive um pequeno ataque de pânico dentro de um carro com um desconhecido ao volante. Quando era muito mais nova, vivi os anos 80 com a mesma sensação: Onde vais? Como vais? Que caminho tomas? Em que carro entras? Depois dos 50, garante-me uma amiga, os homens deixam de mostrar interesse. Não creio que seja assim. Quando alguém pretende fazer mal a outro, a idade é irrelevante. Já o sexo, nem por isso.