No mesmo dia do anúncio da canonização dos Pastorinhos de Fátima, Bruno de Carvalho, presidente do Sporting Clube de Portugal, apareceu, em declarações à Sporting TV, a apelar a que as claques leoninas não fizessem cânticos com referências a “mortos”, numa alusão às referências infelizes ao desastre aéreo do Chapecoense, ao very light e a Eusébio e que envolveu adeptos e simpatizantes dos três grandes do futebol português, Sporting, Benfica e Porto.

Poderia dizer-se, que ao vigésimo dia após o empate entre Benfica e Porto, que virou mais que nunca a questão do título para o eterno dérbi, as palavras poderiam soar a uma espécie de milagre. Apesar de merecer o elogio, esta aparição não apaga o que foi dito para trás. Que não dignificou ninguém.
E para trás recuperou-se tudo de mau que se passou, e que se passa, por norma, fora das “quatro linhas”. Falou-se (ou antes, cantou-se), da queda de um avião que vitimou jogadores e dirigentes de um clube de futebol brasileiro, recuperou-se o trágico e bárbaro acontecimento no Estádio Nacional num assobio a imitar o artefacto pirotécnico e numa tarja com uma alusão a Rui Mendes e perguntou-se sobre o paradeiro de Eusébio. Tudo isto em pavilhões onde decorriam partidas de futsal e andebol.
A juntar, os castigos, os pedidos de interdição de estádios, as "cartilhas” e o apoio às claques não legalizadas tem dominado a agenda mediática. Que envolve os eternos rivais de Lisboa, mas que tem contado com uma parte interessada: o Futebol Clube do Porto. Que já foi “inimigo” de ambos, de um e de outro, que está com relações cortadas com leões, leões que muito recentemente apontavam baterias a um duo (dragões e águias) que queria o monopólio do futebol nacional, mas, segundo dizem os encarnados, os presidentes azuis e verde e branco andam agora de braço dado.

A rivalidade entre Sporting e Benfica sempre existiu. E existirá. Manifesta-se, com maior ou menor tom verbal, a cada encontro. Atinge o apogeu no campo de futebol, passa pelos pavilhões onde se joga futsal, hóquei em patins ou andebol, decorre nas pistas de atletismo, nas estradas portuguesas e até num jogo do dominó não é esquecida.
Ano após ano, com o aproximar do jogo, seja na Luz ou em Alvalade, recordam-se factos. Sobre futebol. Dos jogadores que mudaram entre os dois clubes da 2ª circular, das queixas de ambos que tem mais de 100 anos, de empréstimos de Estádios aos rivais (1923, o Benfica emprestou o campo ao Sporting que “devolveu” o gesto em 1937), do brinco de Vitor Batista perdido no relvado (1978) ou do jogo que não valeu (1995) e foi repetido e anulado pela FIFA.
E golos. Vitórias e derrotas. Dos 7-1 ao 3-6. Seja no YouTube, na RTP Memória, Sport TV ou numa televisão perto de si conseguimos recuperar um passado distante. De Eusébio, Coluna, Damas, Manuel Fernandes, Jordão, Humberto Coelho, Carlos Manuel, João Vieira Pinto, Iordanov, Pedro Barbosa, Rui Patrício, e muito e muitos outros. Só não se recupera nesta memória, os Cinco Violinos.
Fora de campo, antigos dirigentes, ex-jogadores e comentadores dão voz aos prognósticos. Assim como adeptos. Uns fazem festa de apoio antes da equipa (Benfica) partir para estágio e outros, mais imaginativos, realizam um filme emocional com o título “Faz o mundo saber”, incentivando os leões.
São 110 anos de rivalidade. Bem, sejamos honestos. A data não é assim tão unânime e tem a ver com o reconhecimento oficial da data de fundação do Sport Lisboa e Benfica. Sem entrar em mais delongas nem em interpretações históricas vamos assumir uma data, 1 de dezembro de 1907. Partindo dessa base a estatística dos jogos oficiais mostra que desde então foram realizadas 299 partidas. Ou seja, esta é o 300º jogo entre Sporting e Benfica.
E ao 300º jogo, em caso de vitória, as águias igualam, em Alvalade, os leões com 32 partidas em que saíram vencedores do jogo especial. Um dado estatístico que merece uma nota nesta rivalidade centenária.
Em relação ao jogo, o Sporting vem da melhor série neste campeonato. O Benfica, ao invés, tem sido mais intermitente. A pressão está nos dois lados. Se os leões vencerem ficam a 5 pontos. E de repente tudo pode mudar e em tempo de milagres, o mundo da bola, que vive rodeado de fé, pode presenciar um. Em caso de empate ou vitória por parte dos encarnados, a luta pelo campeonato segue uma semana depois. E os leões seguem na luta pelo melhor marcador da Europa.
 
Finalmente, o jogo está aí. E finalmente é a vez de entrar em ação Das Bost, Pizzi, Rafa, Gelson, Patricio, Ederson, Adrien, Luisão e todos os outros convocados. Artur Soares Dias, talvez o melhor árbitro no ativo, é o juiz da partida.
O estádio está esgotado. E que comece o jogo que tem a duração de 90 minutos mas será sempre eterno.
  

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