A Cristina Ferreira, futura Presidente da República Portuguesa (podem ter a certeza que ganha se se candidatar realmente) deu uma entrevista à Visão e, além deste tema, disse que gostaria muito de receber o André Ventura no seu programa. Aproveitando o facto de ela ter comentado elogiosamente o meu texto no Instagram, um exercício imaginário do que seria a Presidente Cristina, respondi-lhe agradecendo e elogiando também o seu fair-play. Mas acrescentei, sobre receber com todo o gosto o Ventura no seu programa, que “esta normalização da extrema-direita é muito perigosa e não devia ter palco nem com a Cristina, nem com um programa como o teu, nem no entretenimento da SIC. Portanto, votos de continuação de todo o sucesso do programa, mas sem extrema-direita. Um beijinho.”.

Rápida, mas não surpreendentemente, recebi várias mensagens sugerindo que era ditatorial eu dizer uma coisa destas, ou que se o Ventura foi eleito não o podemos censurar, ou apenas “qual é o mal?”. Mas o que já é surpreendente para muitos é que não o convidar para um programa da manhã, onde o seu discurso de ódio é mascarado com a humanização de cozinhar bacalhau à Brás, não é sinónimo de censurar. O Ventura pode e deve ser convidado para programas informativos, onde o jornalista o poderá confrontar com o facto de ele querer acabar com a saúde e educação pública, por exemplo, ou de querer reverter a lei do casamento gay ou do aborto.

Não perceber a afectividade com que um programa da manhã envolve os convidados (mesmo que sejam homofóbicos, racistas e destruidores do Estado Social) com os espectadores, em comparação com um noticiário, é não perceber que se está a vender um abjecto abutre mascarado de um fofíssimo pintassilgo. É que uma coisa é a Cristina perguntar, num ambiente descontraído, à volta com os tachos:

- Masó André! Além de quereres ilegalizar o casamento gay e o aborto, e de demonizares a comunidade cigana, comé quéisso das pessoas ficarem sem educação e saúde pública?

E ele conseguir responder:

- Pronto, agora é só juntar os ovos, a batata pala-pala e um bocadinho de salsa!

Toda a gente se ri e o demagogo André passa entre os pingos da chuva.

Outra coisa é a Clara de Sousa falar-lhe sobre os mesmo assuntos, num ambiente sério, de informação política essencial para o país, e ele ter que responder, por exemplo, em relação à saúde:

- Basicamente, quem é rico pode pagar para ter saúde. Quem é pobre, é rezar para não ficar doente.

Portanto, era capaz de dar de jeito parar de confundir a censura com o não normalizar. Ou então que se lixe, pronto. Isto também quando um dia tocar a todos, poderemos todos pensar: “ah, realmente bem que podíamos ter previsto que isto ia dar merda a sério”.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- The Morning Show: Ainda não vi, mas a minha namorada diz que está incrível. E se ela diz, é porque está mesmo.