E quem são estes heróis sem capa? Na Juventus, Allegri não dispensa a competência que Khedira empresta à equipa nesta tarefa. Já o Paris Saint-Germain tem agora em Lass Diarra este tipo de perfil. O mesmo clube que gastou 400 milhões em dois avançados, assinou um contrato de ano e meio por um médio experiente que acabava de rescindir com um emblema dos Emirados Árabes Unidos. Guardiola encontrou em Fernandinho um autêntico ponto de equilíbrio. O brasileiro que é, talvez, o jogador menos ‘guardiolista’ do plantel do City mas tem-se destacado nos últimos tempos, também à custa da forma que a equipa vem jogando e à sua valiosíssima prestação na mesma.

Ainda pelo Brasil, outro bom exemplo é Casemiro. O homem do jogo sujo que nunca viu um vermelho na carreira (sim, é possível que haja aqui coisas a discutir) e que serviu como amuleto do Real para a Liga dos Campeões que, com ele no plantel, venceu-a sempre. Um amuleto tal dos merengues que, nos últimos 4 anos, só a perderam quando o brasileiro foi emprestado ao FC Porto. Pegou de pedra e cal na equipa e, quando não está, parece haver um espaço entre o meio campo e a defesa disponível para alugar. Marcelo, lateral dos blancos, tem coisas a dizer acerca do companheiro de seleção. Afirma que com “Casemito”, pode subir pela ala esquerda mais à vontade, pois sabe que tem o seu guarda-costas para as dobras. Lá está, para brilharem precisam de alguém que não se incomode em estar ofuscado.

De Madrid para Barcelona e da canarinha para a albiceleste, chegamos a Javier Mascherano. Quando foi contratado ao Liverpool, o trinco parecia um pouco alheado do contexto culé. Era, no meio da equipa que jogava ao 'meinho', o herói do tackle. O homem que ia ao chão e fazia gosto em sair de campo com os calções sujos. E isso ficou evidente naquela vez, em 2011, que tirou o pão da boca ao “Lord” Bendtner, quando o dinamarquês ia por o Arsenal nos quartos-de-final da 'Champions', que o próprio admitiu que lhe mudou a vida. Encaixou que nem uma luva e nem o facto de jogar praticamente todos os jogos fora da posição habitual o fez desmotivar.

Num momento em que as estatísticas conseguem decifrar dados que por vezes não saltam à vista há uma importante de vincar. No total, Mascherano marcou seis golos pelo Barça. Um através da marca de grande penalidade e cinco na própria baliza. Os adeptos culés dirão em sua defesa que o número de vezes que os salvou acaba por determinar que foi um negócio compensatório, portanto saiu do clube ovacionado pelos fãs.

Na Argentina, o seu papel é semelhante. Messi leva a braçadeira, Mascherano dá o grito de revolta. Com Robben, contra a Holanda, protagonizou outro lance que fica na memória de todos. Um corte que só um jogador empenhado daquela forma faria, que lhe valeu uma nada romântica lesão no rabo.

No tempo do futebol onde já não se dá a bola como presente mas sim a camisola, a capacidade de anular um golo, ou anular um adversário que faz golos, é tão valioso como marcá-los. Este tipo de jogador faz contraponto ao jogador com talento, e é a ele que se pede para fazer a falta necessária e levar o amarelo que o companheiro antes evitou. Vivem fora do estrelato e estão ali para cumprir o que quer que lhes seja pedido. Num novo mundo onde o extraordinário é normal, o que é normal passa a ser verdadeiramente extraordinário.