Factores como a polémica dos votos dos emigrantes, o facto de ter eclodido uma guerra na Europa ou o Bruno de Carvalho distraíram-nos de um dado que talvez tenha alguma relevância, já que lhe dedicámos tanta atenção há dois meses: vamos ter um novo governo, sustentado por uma maioria absoluta. Contudo, a verdade é que ninguém está verdadeiramente ansioso pela tomada de posse. A administração do condomínio Portugal deixou há algum tempo de ser rotativa e simplesmente continua a ser assumida pelo único condómino com vontade de se manter no cargo: António Costa.
O primeiro-ministro continuará a ser o mesmo, porém o mesmo não se pode garantir quanto ao restante elenco governativo. Mas se é expectável que haja uma ou outra cara nova, prevê-se que os nomes menos desgastados da anterior legislatura se mantenham no governo. Mesmo no que toca às novidades, não tenhamos a expectativa de conhecer todo um fresquíssimo plantel de jovens garbosos de galharda postura, promessas formadas no Largo do Rato, em lágrimas pela oportunidade de se estrearem como titulares no Conselho de Ministros.
Não, o mais provável é levarmos com o Medina. Que não só não é uma cara nova, como é conhecido pela cara triste - aquela que fez na noite eleitoral das Autárquicas do ano passado e que cristalizámos na nossa memória como um momento que teria validade de certidão de óbito político.
Nesse sentido, faço questão de sugerir alguns nomes que poderiam conferir alguma cor à tomada de posse do novo governo. Não esqueçamos que entraremos numa legislatura de maioria absoluta, em que facilmente se cai no tédio. Tendo em conta o que se tem passado no Mundo desde 2020, já não estamos habituados ter uma actualidade noticiosa aborrecida. Depois de tantos meses em convulsão, a estabilidade pode até ser perigosa. Seguem, então, algumas ideias:
Na Saúde, o Engenheiro Fernando Santos. A saúde dos portugueses está em mau estado, pelo menos a julgar pela quantidade de baixas no boletim clínico da Seleção A. Por outro lado, falhando o apuramento para o Mundial, o engenheiro contribuirá para a melhoria da saúde mental dos portugueses, que podem e devem ser poupados à pobreza das exibições da equipa.
Na Economia, um major-general daqueles que comenta a guerra. Para esta pasta, tem-se avançado o nome de António Costa Silva, o arquitecto do Plano de Recuperação e Resiliência. Contudo, ultrapassada a vacinação em massa, a recuperação económica é o novo grande desígnio nacional. Se quem liderou a vacinação foi um militar, não deveria ser um militar a liderar a retoma? Não. Mas sinto que as nossas tropas estão desmoralizadas ao ponto de passarem horas a fio em estúdios da TV por cabo, pelo que este desafio era capaz de ser motivador. E, sendo justo, a verdade é que eles percebem muito de bazucas.
Na Cultura, o fundador da Comunidade Cultura e Arte. Rui André Soares, recentemente entrevistado no programa A Minha Geração, tem tudo para derrubar as fortalezas da elite centralista que sorve com sofreguidão os já de si escassos recursos alocados ao setor. A sua primeira exigência? 1% do Orçamento do Estado para a captura e publicação de frames.
Na Defesa, a cronista Carmo Afonso. Dificilmente haverá alguém tão habilitado para esta pasta do que alguém que se profissionalizou na defesa do indefensável. E seria uma forma de sanar as hostilidades com o PCP. É que, recentemente, os comunistas viram-se obrigados a assumirem-se como fãs da sua prosa. Comparativamente, terem votado em Soares em 1986 para que Freitas não ganhasse até foi uma coisa que nem lhes custou muito.
Na Transição Digital, Rui Rio. O melhor utilizador do Twitter da classe política não merecia o desfecho que a noite eleitoral lhe reservou. António Costa podia ser magnânimo e oferecer ao ainda líder da oposição a pasta que mais se adequa ao seu talento cibernético. Um social-democrata media manager, porque não?
Na Administração Interna, Eduardo Cabrita. Vá lá. Vocês sabem que querem.
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