Há acordo para os cereais ucranianos. Agora é preciso cumpri-lo

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

A Ucrânia e a Rússia assinaram hoje acordos separados com a Turquia e as Nações Unidas para desbloquear a exportação de cerca de 25 milhões de toneladas de cereais retidos nos portos do Mar Negro.

As delegações reuniram-se na presença do secretário-geral da ONU, António Guterres, do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, dos ministros da Defesa turco e russo e do ministro da Ucrânia para as Infraestruturas.

A cerimónia aconteceu sob as bandeiras da Rússia e da Ucrânia, separadas pela bandeira azul da ONU e a bandeira vermelha da Turquia, que se ofereceu para servir de mediador desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro.

O que está em causa?

Na cerimónia em Istambul, foram assinados dois documentos - já que a Ucrânia recusou assinar o mesmo papel que a Rússia -, devendo o acordo vigorar durante quatro meses, sendo, no entanto, renovável.

Depois de dois meses de intensas negociações, os documentos visam criar um centro de controlo em Istambul, dirigido por representantes das partes envolvidas: um ucraniano, um russo, um turco e um representante das Nações Unidas, que deverão estabelecer o cronograma de rotação de navios no Mar Negro.

O acordo implica também que passe a ser feita uma inspeção dos navios que transportam os cereais, para garantir que não levam armas para a Ucrânia.

Estas inspeções, que serão realizadas tanto à saída como à chegada dos navios, deverão acontecer nos portos de Istambul.

O que foi dito na assinatura? 

Em conferência de imprensa, António Guterres, secretário-geral da ONU, referiu que este é "um acordo para todo o mundo" e falou no momento como "um farol de alívio".

"Hoje temos um farol para o Mar Negro. Um farol de esperança. Um farol de possibilidades. Um farol de alívio num mundo que precisa desse alívio mais do que nunca", frisou, agradecendo de seguida "aos representantes da Federação Russa e da Ucrânia".

"Ultrapassaram obstáculos e puseram de lado as diferenças, para abrir caminho a uma iniciativa que vai servir os interesses comuns de todos", apontou.

O secretário-geral da ONU lembrou ainda que o acordo vai ajudar "a estabilizar os preços globais dos alimentos, que já estavam em níveis recordes mesmo antes da guerra – um verdadeiro pesadelo para os países em desenvolvimento".

Quais as reações à assinatura dos acordos?

Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE: "A União Europeia congratula-se com os acordos hoje assinados em Istambul pela Ucrânia, Rússia, Turquia e Nações Unidas para desbloquear o Mar Negro para as exportações ucranianas de cereais".

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu: Os acordos assinados por Kiev e Moscovo "podem beneficiar milhões de pessoas em todo o mundo". "A estrita implementação do acordo é agora da maior importância para que este funcione", adiantou.

João Gomes Cravinho, ministro dos Negócios Estrangeiros: "É uma excelente notícia e é algo que o mundo fica a dever ao secretário-geral das Nações Unidas, que trabalhou de forma muito intensa neste acordo, bem como à Turquia, que desempenhou um papel fundamental", disse à Lusa. "Mas, naturalmente, não basta assinar os acordos. É preciso cumprir os acordos, por isso, estaremos de olhos postos na Rússia".

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia: "Milhões de toneladas de cereais desesperadamente necessários e retidos pela guerra causada pela Rússia poderão, finalmente, partir através do Mar Negro para ajudar a alimentar as pessoas em todo o mundo".

Volodymyr Zelensky: "Todos entendem que a Rússia se pode envolver em provocações, tentativas de desacreditar os esforços ucranianos e internacionais. Mas confiamos na ONU. Agora, é responsabilidade desta garantir o cumprimento do acordo", disse o chefe de Estado ucraniano no seu discurso diário em vídeo.

Como se chegou aqui?

Os acordos surgem numa altura em que a ofensiva militar russa na Ucrânia dura há quase cinco meses.

Os confrontos levaram ao bloqueio das exportações nos portos ucranianos, um cenário de tensão geopolítica que está a afetar as cadeias de abastecimento e a causar receios de rutura de 'stocks' e de crise alimentar.

Tanto a Ucrânia como a Rússia são importantes fornecedores dos mercados mundiais, especialmente de cereais e óleos vegetais, como trigo, cevada e milho, sendo que Kiev é também responsável por mais de 50% do comércio mundial de óleo de girassol e um importante fornecedor de ração para a UE.

Estima-se que milhões de toneladas de trigo estejam retidas na Ucrânia, sendo que a exportação habitual ucraniana neste setor era de cinco milhões de toneladas de trigo por mês.

Para a vizinhança da UE, no norte de África e no Médio Oriente, tanto a disponibilidade como a acessibilidade de preços estão em risco no que toca ao trigo, o alimento básico, o que também acontece na Ásia e na África subsaariana.

O norte de África e o Médio Oriente importam mais de 50% das suas necessidades de cereais da Ucrânia e da Rússia.

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