“É uma excelente notícia e é algo que o mundo fica a dever ao secretário-geral das Nações Unidas, que trabalhou de forma muito intensa neste acordo, bem como à Turquia, que desempenhou um papel fundamental”, disse à Lusa o chefe da diplomacia portuguesa.
“Mas, naturalmente, não basta assinar os acordos. É preciso cumprir os acordos, por isso, estaremos de olhos postos na Rússia”, acrescentou Gomes Cravinho, lembrando que, noutros momentos recentes, nomeadamente nos acordos para a criação de corredores humanitários na guerra da Ucrânia, Moscovo não respeitou a sua palavra.
“Temos essa preocupação. A Rússia, repetidamente, mostrou que não cumpre a sua palavra”, lamentou Gomes Cravinho.
A Ucrânia e a Rússia assinaram hoje acordos separados com a Turquia e a ONU para desbloquear a exportação de cerca de 25 milhões de toneladas de cereais presos nos portos do Mar Negro.
Numa cerimónia realizada no Palácio Dolmabahçe, na cidade turca de Istambul, com a parceria da Turquia e da ONU, foram assinados dois documentos – já que a Ucrânia recusou assinar o mesmo papel que a Rússia – devendo o acordo vigorar durante quatro meses, sendo, no entanto, renovável.
João Gomes Cravinho sublinhou a importância destes acordos, não apenas para a segurança alimentar, mas também por permitirem o acesso a fertilizantes, “que são fundamentais em muitas partes do mundo”.
“Estes acordos mostram também que a diplomacia, mesmo nestas circunstâncias difíceis, consegue produzir resultados”, disse Gomes Cravinho à Lusa, na conclusão de uma visita oficial ao Peru.
O chefe da diplomacia portuguesa disse que compreende o facto de a Ucrânia se ter recusado a assinar um acordo diretamente com a Rússia, obrigando à assinatura em separado de um “acordo em espelho” entre a Turquia e as Nações Unidas e Moscovo.
“Compreendo que os ucranianos tenham a maior das dificuldades em assinar um documento em comum com a Rússia. É um país que os está a invadir e que desrespeitou acordos escritos internacionais.
Apesar de reconhecer que a Europa não é um dos continentes diretamente afetados com a falta de cereais, Gomes Cravinho salienta os benefícios do desbloqueio dos cereais dos portos ucranianos para o controlo da inflação no Ocidente.
“A Europa não tinha essa ameaça direta. Mas, da perspetiva portuguesa, não nos podemos deixar de nos preocupar com os restantes países do mundo (…) e alivia a pressão sobre os preços”, admitiu o chefe da diplomacia portuguesa.
Gomes Cravinho diz que falou sobre estes acordos com o secretário-geral da ONU, quando António Guterres esteve em Lisboa, recentemente, para a Conferência dos Oceanos, tendo percebido a complexidade do processo, bem como as dificuldades de negociação diplomática num tema crítico.
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