Um pedido de desculpas para Sacheen Littlefeather

Rita Sousa Vieira
Rita Sousa Vieira

27 de março de 1973. Passados quase 50 anos após a indígena norte-americana Sacheen Littlefeather ter subido ao palco dos Óscares para recusar o prémio em nome de Marlon Brando, a Academia pediu desculpa pela forma como foi tratada.

Marlon Brando ganhou o Óscar de Melhor Ator pela sua personagem Vito Corleone no filme "O Padrinho", mas quem subiu ao palco — para recusar a estatueta — foi Sacheen Littlefeather.

Littlefeather, que segurava uma carta de Branco, explicou que o ator rejeitou a estatueta como forma de protesto contra o tratamento e estereótipo que a indústria cinematográfica fazia dos indígenas americanos. Em resposta, a atriz e ativista pertencente às comunidades apache e yaqui foi assobiada pela audiência, que não a deixou terminar o discurso.

O momento pode ser recordado aqui  e o conteúdo da carta de Marlon Brando lido aqui. O ator tinha escrito um discurso de  quatro páginas para Littlefeather, no entanto, reza a história, o produtor dessa edição dos Óscares, Howard W. Koch, apenas lhe terá permitido 60 segundos no palco.

Num comunicado divulgado a 18 de junho pelo presidente da Academia de Artes Cinematográficas e de Ciências, David Rubin, admite-se que a coragem de Littlefeather "não foi reconhecida" durante anos.

"Hoje, quase 50 anos depois, e com a orientação da Aliança Indígena da Academia, somos firmes no nosso compromisso em garantir que as vozes indígenas - os contadores de histórias originais - sejam contribuintes visíveis e respeitados para a comunidade global cinematográfica", acrescenta a carta, que a Academia divulgou com o anúncio de que Sacheen foi convidada a discursar no próximo mês no museu de cinema da organização em Los Angeles, que prometeu enfrentar "a história problemática" dos Óscares, incluindo o racismo.

"Em relação ao pedido de desculpas da Academia, nós, índios, somos pessoas muito pacientes, passaram-se apenas 50 anos!", reagiu a ativista indígena. "Precisamos de manter o nosso sentido de humor em relação a isso. É o nosso método de sobrevivência", declarou, considerando o próximo evento "um sonho que se tornou realidade". "É profundamente encorajador ver que muito mudou desde que não aceitei o Óscar há 50 anos", acrescentou.

A Academia tomou medidas para enfrentar as acusações de falta de diversidade racial nos últimos anos. Em 2019, a estrela de "O Último dos Moicanos" (1992), Wes Studi, tornou-se o primeiro ator nativo americano a receber um Óscar — ainda que honorário, pelo conjunto da carreira.

O evento com Sacheen Littlefeather, descrito como "um programa muito especial de conversa, reflexão, cura e celebração", acontecerá no dia 17 de setembro.

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