Nove anos depois, o que há para dizer sobre "esta dor de perder dinheiro"
A 24 de julho de 2014, Ricardo Salgado foi constituído arguido e ouvido pelo Tribunal Central de Instrução Criminal, no âmbito da operação Monte Branco, depois de ter sido detido na sua casa, em Cascais.
A detenção daquele que foi durante décadas um dos homens mais poderosos de Portugal, senão o mais poderoso, representou o fim de uma era na banca e para os hoje lesados do BES o início de um processo no qual procuram recuperar não apenas o dinheiro, mas também a reparação pública do engano de que se sentem vítimas.
Há nove anos, em menos de dois meses, o BES desmoronou.
A 21 de maio de 2014 era publicado um prospecto referente ao aumento de capital do BES que continha várias informações sobre o universo Espírito Santo. A mais importante referia-se à auditoria pedida pelo Banco de Portugal às contas da ESI, de 30 de setembro de 2013 e 31 de dezembro de 2013, que "apurou irregularidades e concluiu que a sociedade apresenta uma situação financeira grave".
Seis dias depois, a 27 de maio, o BES foi autorizado a arrancar com um aumento de capital de até 1045 milhões de euros.
Quinze dias mais tarde, a 11 de junho, o aumento de capital foi totalmente subscrito com a procura a superar a oferta.
A partir daí foi sempre a descer, na Bolsa e na confiança.
A 31 de julho de 2014 estava marcada uma assembleia geral extraordinária. Foi desmarcada a 29 de julho, no mesmo dia que o Tribunal do Comércio do Luxemburgo anunciava ter aceite o pedido de gestão controlada apresentado pela ESFG (detentor de 20,1% do BES), tal como o da Rio Forte.
Nove anos depois, a 31 de julho de 2023, foi conhecida a decisão de levar Ricardo Salgado (e mais 25 arguidos) a julgamento por 65 crimes, entre os quais associação criminosa, corrupção ativa, falsificação de documento, burla qualificada e branqueamento, acontece nove anos após a derrocada do Grupo Espírito Santo (GES), que terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.
Em entrevista ao SAPO24, Ana Raquel Conceição, advogada da Antas da Cunha Ecija & Associados, sociedade que representa 1600 dos lesados do BES, defendeu que “o sofrimento de se perder, de se sentir enganado, é algo que os tribunais em Portugal têm que começar a ver com os mesmos olhos que vêem qualquer outro tipo de sofrimento". "Porque esta dor de perder dinheiro tem que ser muito pensada na jurisprudência portuguesa como uma verdadeira dor física”.
Quase 10 anos depois, não é o fim de um processo, mas a ida a julgamento abre portas à indemnização e, por ventura, a uma nova forma de contabilizar danos, nomeadamente morais. Os lesados do BES podem tornar-se os primeiros com estatuto de vítimas do sistema financeiro .
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