O ano de 2022 tem sido bastante diferente do de 2021 no que diz respeito ao mundo das empresas. As sucessivas IPOs, rondas de investimento e aquisições que encheram as páginas de todas as publicações business no período da pandemia e do pós-pandemia foram substituídas por preocupações económicas com a Guerra na Ucrânia e a inflação, diversos despedimentos em algumas das principais empresas e um mercado de investimento que em todos os sentidos arrefeceu.
Por isso, a anúncio de que a Adobe ia comprar a Figma por 20 mil milhões de dólares surgiu como uma surpresa quer para analistas que antevêem uma longa recuperação do mercado, quer para empresas no mundo inteiro que podem novamente ter esperança em conseguirem capital ou uma "exit strategy" para escalar o seu negócio. Mas quem são estas duas empresas:
A Adobe é a popular multinacional americana, fundada em 1982, que hoje detêm uma hegemonia sobre o mercado de aplicações para a economia criativa com serviços como o Photoshop, o Illustrator, o PDF e as soluções da Abobe Creative Cloud, só para citar alguns. À data da escrita deste texto, está avaliada em cerca de 140 mil milhões de dólares.
A Figma é uma plataforma (e empresa claro) criada há 10 anos, que criou uma espécie de Google Docs para Designers, um ecossistema onde estes podem colaborar e trabalhar em tempo real no desenvolvimento de trabalhos criativos através da Web. Na sua mais recente ronda de investimento, em 2021, a empresa tinha levantado 330 milhões de dólares com uma avaliação de 10 mil milhões de dólares.
O porquê desta compra…
Não é novo e já foi visto em muito outros cenários. O panorama da economia criativa está cada vez mais centrado nos criadores e na natureza colaborativa do processo de design num contexto digital. Isto significa que a Figma já estava a oferecer a uma nova geração de designers aquilo que procuravam e a fazer, inclusive, com que alguns do mais antigos clientes da Adobe fizessem a mudança para o seu serviço.
Assim, esta aquisição parece ter sido uma tentativa da Adobe de cortar o mal pela raíz e impedir que a Figma ganhasse ainda mais preponderância e que se tornasse efetivamente um rival na indústria. O perigo era tão grande que valor pago pela Figma representa 50x o valor das suas receitas atuais de 400 milhões de dólares.
Os 20 mil milhões de dólares são a aquisição mais elevada de sempre de uma empresa de software privada.
A antiga aquisição mais elevada da Adobe tinha sido por um valor a rondar os 4.75 mil milhões de dólares (Marketo).
Sobre a venda, Dylan Field, o CEO da Figma, disse que "a Figma terá acesso à tecnologia e expertise da Adobe, que vão fazer com que a nossa plataforma seja acessível a mais pessoas".
Onde é que eu já vi isto?
Ao longo dos anos, existem vários casos de grandes aquisições que serviam apenas para proteger uma posição dominante num mercado e investir em inovação através de uma empresa e não de um desenvolvimento in-house.
O Facebook comprou o Instagram e o Whatsapp por temer que pudessem ser ferozes competidores pela hegemonia da "economia social da Internet".
A Salesforce comprou o Slack por 28 mil milhões de dólares, no ano passado, pela posição da empresa no novo panorama digital do local de trabalho.
A Disney comprar a Marvel ou a LucasFilm para não enfrentar tanta competição por propriedade intelectual de relevo.
Tal como nestes casos, há duas questões mais colocadas por utilizadores e analistas. Primeiro, em termos de concorrência, será que isto é aprovado nos EUA (a FTC tem tido uma postura cada vez mais firme nestes temas). Segundo, no final do dia, quem é que vai beneficiar mais com esta decisão da Figma: os investidores que puderam fazer um volumoso “cash-out” com esta operação ou os utilizadores que temem que os vícios da Adobe possam vir a estragar a experiência da plataforma da qual se tornaram ferverosos adeptos.
Comentários