Adyen tombou com estrondo na bolsa de Amesterdão. Na verdade, não foi bem um tombo; foi mais uma espécie de derrocada, já que a fintech neerlandesa perdeu 18 mil milhões de euros de capitalização bolsista em apenas 24 horas. Mas antes de explicar esta queda aparatosa, um pequeno parênteses de contexto.

Quem é a Adyen?

Fundada em 2006 por Pieter van der Does (atual co-CEO) e Arnout Schuijff, é uma tecnológica com sede em Amesterdão que nasceu para simplificar os métodos de pagamentos. Cotada em bolsa desde 2018, é uma das maiores empresas de fintech a nível mundial (escritórios em 27 países, sendo o de Madrid o quartel-general para a Península Ibérica) e ajuda a processar os pagamentos de gigantes como a Uber, Netflix, eBay, Meta ou Spotify.

Mais do que um processador de pagamentos, realça a CNBC, a Adyen é o que se designa por gateway de pagamento - o que significa que fornece a tecnologia que permite aos donos de negócios aceitar pagamentos com cartão e fazer transações nas suas lojas online. A troco do serviço, a empresa recebe uma pequena parte de cada transação efetuada.

"Ajudamos empresas a aceitar pagamentos de clientes que comprem em qualquer canal, em qualquer região, com qualquer método de pagamento e também em qualquer moeda", explica ainda Juan José Llorente, Country Manager da empresa para Portugal e Espanha, ao Público.

Em termos práticos, pegando no exemplo da fictícia Empresa A, a plataforma permite:

  • À Empresa A poupar trabalho e dores de cabeça na gestão de várias moedas e variantes (se Portugal tem o MB Way, o Brasil tem o Boleto, por exemplo), juntando vários serviços numa única plataforma;

  • Ao cliente da Empresa A ter mais garantias de escolha e eficiência na hora de pagamento no checkout. No fundo, a Adyen permite à Empresa A pensar na conveniência do cliente — de modo a que este não desista da compra por não ter o seu método favorito ou o processo demorar muito tempo. No fundo, para não acontecer aquela situação do "Tem MB Way? Não? Então, obrigado".

No caso da Adyen, a fintech oferece ainda um sistema antifraude, que com recurso a inteligência artificial (IA), é moldado à medida das necessidades do cliente. Ao contrário da concorrência, é o cliente que decide o quanto a IA vai intervir ou não na sua situação.

Em Portugal, país onde opera desde 2013, oferece uma carteira de serviços online e presenciais para o comércio unificado — um modelo que une o mundo físico e o digital num só sistema. Juan José Llorente, ao Observador, apelidou esta prática híbrida de compra de "figital". Exemplo: situação em que o cliente vê e experimenta um produto presencialmente, mas opta por comprá-lo online (ou vice-versa).

O que aconteceu?

Feitas as apresentações, responda-se então à questão que dá título ao artigo: o que levou à venda frenética das suas ações e à consequente desvalorização de 18 mil milhões de euros num único dia? A resposta é simples: o anúncio de que teve o crescimento de receitas mais lento da sua história desde que é cotada em bolsa.

Há duas semanas, a Adyen apresentou os resultados do primeiro semestre do ano. Mas as receitas de 739,1 milhões de euros, um aumento de 21% em relação a 2022, foram inferiores ao esperado. Segundo a CNBC, os analistas esperavam um volume de negócios de 853,6 milhões de euros e um crescimento anual de 40%. Ainda de acordo com aquela fonte, os valores contrastam com aquilo que tem sido norma na Adyen, que tem reportado consistentemente um crescimento de receitas de 26% em cada período semestral desde a sua estreia.

Em 2023, houve lucro, só não foi o esperado — o que levou à queda das ações da empresa que um corretor descreveu à Reuters como uma "venda do apocalipse" e foram feitas mais de um milhão de transações, algo que não era visto desde os tempos da pandemia em 2020. Contudo, no mesmo artigo, é também dito que alguns dos investidores já contavam com esta derrapagem, tendo em conta que o setor tem sido fustigado pelo aumento das taxas de juro.

O futuro

No relatório, a Adyen justificou os números apresentados com dois fatores:

  •  A redução de preços da concorrência (para fazer face às taxas de juro e à inflação) abrandou o crescimento das receitas;

  • A contratação de pessoal (entraram 551 pessoas para os quadros da empresa) levou a que a margem de lucros diminuísse.

O primeiro ponto é especialmente importante para a Adyen porque a concorrência, nos EUA, está a oferecer taxas de juro mais baixas devido à inflação. O que é um problema porque havendo menos transações por parte dos consumidores, há menos receitas a entrar nas contas.

Porém, isso parece ser algo que, para já, não tira o sono ao CEO, que se manteve otimista e tentou tranquilizar os investidores. Na sua ótica, a sua "empresa não está a encolher", está simplesmente a crescer "um pouco mais devagar".

E se for preciso baixar as taxas, também consegue ir "à guerra". "Trabalhamos com os custos mais baixos [leia-se, trabalham com metade das pessoas da Stripe] pelo que poderíamos entrar na luta dos preços, mas não acreditamos que essa seja a melhor estratégia", afirmou Pieter van der Does na reunião com analistas após os resultados.