A 9 de dezembro de 1968, o engenheiro informático norte-americano Douglas Englebart dirigia um centro de investigação para o aumento da inteligência humana, subsidiário da Universidade de Stanford e em hora e meia fez perante cerca de duas mil pessoas uma apresentação pública que viria a moldar a experiência humana com computadores e tecnologia nas décadas seguintes.
Durante essa hora e meia, Engelbart e membros da sua equipa, alguns no laboratório a vários quilómetros de distância, demonstraram pela primeira vez tecnologia que é hoje corriqueira, do rato ao hipertexto, passando pela videoconferência e processamento de texto.
Marcos como o rato e a disseminação dos computadores pessoais aproximaram as pessoas da informática ao ponto de esta ser hoje “vista como uma ciência básica, como a Matemática, a Biologia, a Química ou a Física”, afirmou à Lusa a coordenadora da licenciatura em Engenharia Informática do Instituto Superior Técnico, Inês Lince.
Para Inês Lince, o aparecimento do rato do computador é tão importante quanto a tendência para ficar obsoleto, pois define a informática como “a maior revolução tecnológica que se vive”, em mudança constante.
“Há 20 anos não se imaginava isto”, afirmou, referindo-se à omnipresença da Internet, dos telemóveis e de outras tecnologias que se tornaram de uso corriqueiro.
Enquanto os computadores foram essencialmente objetos estáticos, colocados em secretárias, o rato foi indispensável, mas com a crescente mobilidade dos dispositivos eletrónicos, dos “smartphones” aos “tablet”, o caminho do futuro deverá ser “mais natural, mais intuitivo”.
Nos ecrãs táteis que são hoje em dia a norma dos dispositivos, o contacto entre o dedo do utilizador e a máquina “é muito mais intuitivo, é como um prolongamento do próprio corpo” e uma geração de crianças educadas com recurso a ‘tablets’ sente isso desde pequena.
Em 2008, quando já se debatia quanto tempo o rato duraria até se tornar obsoleto, a empresa suíça Logitech fabricava o seu rato “mil milhões”.
De um começo puramente funcional – uma peça de madeira com rodas -, a forma do rato tornou-se ao longo dos anos mais ergonómica, trocou a bola que rodava na parte inferior para determinar o movimento do cursor por sensores óticos, mantendo no essencial a função de apontar e selecionar.
Ganhou botões para subir e descer numa página, acabou por largar a “cauda” que lhe deu o nome para se tornar sem fios e o próximo passo na evolução do rato e da tecnologia poderá mesmo ser a extinção.
Inês Lince aponta as experiências que já se fazem na incorporação de circuitos eletrónicos no corpo humano – “um ‘pacemaker’ é isso mesmo”- como um possível próximo passo na interação entre humanos e máquinas, mas salienta que o mercado tem os seus próprios caprichos, reflexo do comportamento humano, “que é difícil de prever e gerir”.
Outros “interfaces” lançados por marcas de informática ao longo dos anos chegaram e desapareceram sem se dar por eles e “o mesmo negócio pode não ter saúde para vingar num momento e ter sucesso a seguir”.
Há 50 anos, no fim do que ficou conhecida como “a mãe de todas as demonstrações”, Douglas Engelbart agradecia à família que aguentou a sua “monomania” e à equipa que consigo partilhava “o sonho maluco” que acabou por ser profético.
Este texto sobre Engelbart e uma das suas mais famosas criações foi escrito ainda com o auxílio de um rato. Daqui a 50 anos, quem sabe?
Engelbart sabia uma coisa com certeza e até a converteu numa lei com o seu nome: os humanos aumentam exponencialmente a sua capacidade de inventar e aprender, ou seja, só os humanos são capazes de melhorar a sua capacidade de serem melhores.
* António Pereira Neves, Agência Lusa
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