Com os mais novos a passarem cada vez mais tempo em frente aos ecrãs, verifica-se também um aumento do número de pais que recorrem a aplicações para monitorizar a atividade virtual dos filhos. No entanto, refere o Jornal de Notícias, a má utilização destes softwares pode gerar conflitos familiares e são cada vez mais frequentes os casos de controlo que correm mal.

Segundo a publicação, no último ano e meio, surgiram mais de dez novas aplicações de controlo parental, que permitem, por exemplo, localizar o telemóvel dos filhos via GPS, limitar o tempo que passam online, aceder a mensagens e à atividade nas redes sociais ou até gravar o som ambiente.

Porém, a má utilização destas aplicações por parte dos pais, refere o JN, pode levar a conflitos familiares que passam para o ambiente escolar e levam as famílias a procurar terapia.

Para Sofia Ramalho, vice-presidente da Ordem dos Psicólogos Portugueses, o aumento dos conflitos pode ser explicado pelos últimos 17 meses: "Tivemos um recurso aos meios digitais até três vezes maior do que era comum, e estaremos, agora, numa fase de transição e de reajustar os tempos de ecrã".

Já Rosário Farmhouse, presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ), também citada pela publicação, refere que "as aplicações de apoio parental podem ser úteis", mas considera "fundamental ter sempre em conta o contexto e a idade da criança ou jovem" – pode ser compreensível a monitorização da atividade de um filho de 12 anos vítima de ciberbullying, mas não o controlo das mensagens de um adolescente de 17 anos sem justificação.

Em entrevista ao JN, o psiquiatra e professor jubilado Daniel Sampaio visa a utilização de software de monitorização remota, salientando que "a chave da educação bem sucedida é conseguir um equilíbrio entre controlo e autonomia, tendo em conta a idade e maturidade emocional da criança ou adolescente".

"Sou a favor de um controlo parental das horas de internet, que se deve definir em diálogo com os filhos. Quanto ao telemóvel pessoal (que só deve existir depois dos 10 anos) sou contra o controlo parental. Trata-se de um aparelho muito importante para os jovens, que é pessoal e intransmissível", acrescenta.

"Os pais que espiam os filhos têm sempre surpresas desagradáveis. É melhor falarem sobre os riscos, os perigos e as surpresas que se se encontram na net", refere ainda Daniel Sampaio, aconselhando os pais a que " deixem a espionagem e percam uma noite a falar com o filho".

A Deco Proteste preparou uma lista destes softwares, mas também alerta os pais que, antes de os instalarem, devem conversar com os filhos e explicar os motivos por que pretendem fazê-lo, reiterando que “se as crianças vierem a descobrir que instalou a app sem lhes contar, pode surgir uma quebra de confiança".