O futuro da Inteligência Artificial (IA) é incerto para todos, até mesmo para as empresas que lidam diariamente com essa tecnologia. A cada dia surge uma nova aplicação que desperta entusiasmo, mas também enfrenta desafios e preocupações, seja em questões legais, custos ou impacto no emprego, para dar alguns exemplos.
Desde o final de 2022, a IA tornou-se um termo indispensável no vocabulário empresarial e no roadmap de muitas grandes tecnológicas. Nos últimos anos, estas empresas lançaram novos produtos, estabeleceram parcerias e, em vários casos, investiram em negócios que já estavam mais avançados na tecnologia. A Amazon Web Services (AWS), apesar de ser a maior plataforma de cloud a nível global e de ter trabalhado em algumas funcionalidades, adotou uma postura mais cautelosa durante o primeiro ano.
Na edição de 2023 do AWS Cloud Experience Portugal, Julien Groues, General Manager da AWS para o Sul da Europa, confirmou essa abordagem, explicando que o foco da empresa era oferecer algo realmente útil aos clientes, em vez de criar produtos apenas para dizer que estava a investir em IA. Na altura, o Amazon Bedrock já era a tecnologia de destaque da AWS, uma plataforma que permitia a empresas de todas as dimensões desenvolver os seus produtos de IA, escolhendo os modelos mais adequados, quer fossem da Amazon, quer de parceiros como Anthropic, Meta ou a francesa Mistral, num ambiente seguro e com as funcionalidades da sua cloud.
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Avançando 12 meses
Volvido um ano, a AWS já tem um posicionamento mais imponente relativamente a inteligência artificial, suportado por mais casos de estudo, mais produtos e mais números.
Um deles é 61 mil milhões de dólares. É quanto um estudo encomendado pela AWS diz que poderá ser o impacto da “IA” na economia portuguesa até 2030. Por isso, o foco do AWS Cloud Experience deste ano, que decorreu esta quarta-feira, 16 de outubro, foi mostrar a 1.300 especialistas em tecnologia e negócios as diferentes formas como a empresa americana pode desempenhar um papel nessa tendência. “Este evento é um exemplo de como estamos a investir em Portugal”, afirmou ao The Next Big Idea (TNBI) Amélie Clugnet Veron, a Managing Director da AWS para o Sul da Europa.
A conversa com a executiva francesa foi uma oportunidade para fazer uma triagem à adoção de IA por parte das empresas portuguesas, para falar de uma nova abordagem que a AWS está a ter ao mercado e, claro, dos casos de estudo que melhor representam o impacto positivo que a empresa procura ter numa série de indústrias.
A curva de aprendizagem
De acordo com o estudo acima mencionado, 57% das empresas portuguesas já utilizam pelo menos uma ferramenta de inteligência artificial e 87% das mesmas acreditam nos benefícios da sua aplicação nas suas operações. “É fundamental haver esta convicção, porque no final do dia é uma questão de formação e de quanto é que o governo português e empresas como a AWS estão dispostos a investir para treinar pessoas, educá-las e garantir que lhes damos as melhores ferramentas para desenvolverem aplicações. Nós queremos democratizar o acesso a estas tecnologias e o nosso posicionamento é claro desde o início da AWS. Queremos oferecer escolha, conveniência e o melhor preço”, explica Veron.
Neste percurso, a AWS enfrenta dois desafios aos quais tem procurado dar resposta.
Por um lado, mais do que atrair novos clientes para o seu ecossistema, há uma necessidade de trabalhar relações existentes que começaram com os seus serviços de cloud e que agora podem evoluir para as suas ferramentas de IA. No “Cloud Experience”, estavam em destaque casos de estudo de corporates, PMEs e startups como EDP, Deloitte, Unbabel, Ryanair, Outsystems, RTP Play, SECIL e OMNIFLOW. Para Amélie Veron, não tem sido necessária muita persuasão para a natureza destas parcerias se transformar. “Nós disponibilizamos muitas oportunidades, é por isso que as empresas vêm até nós e somos líderes no mercado há vários anos. Nós estamos a desenvolver coisas que os nossos clientes querem, seja para desenvolver, testar e falhar rápido, com um custo limitado, seja para crescer, escalar e implementar de forma fácil”, partilha.
Em segundo lugar, o tema da falta de talento em IA, que dificulta o acesso de muitas empresas a capital humano e que encarece muito o processo de desenvolvimento deste tipo de tecnologias. Nos últimos anos, os programas de educação da AWS já formaram cerca de 130 mil estudantes em 25 universidades portuguesas, na expectativa de que estes possam integrar ou criar as empresas que no futuro recorram à IA diariamente. “Outro dos programas que admiro é o AWS Restart, que está destinado a população desempregada, a quem ensinamos os básicos da cloud, como operar data centers, como operarem o seu negócio, para que possam voltar ao mercado de trabalho”, destaca a responsável da AWS.
O regresso ao espírito de startup
Na última década, o crescimento da AWS foi essencialmente sustentado pela sua capacidade de oferecer soluções às grandes empresas tecnológicas, à medida que escalavam os seus produtos para todos os cantos do mundo. Aliás, se olharmos para os lucros da empresa-mãe – a Amazon -, a subsidiária já é hoje responsável por mais de metade dos seus lucros.
No entanto, numa entrevista recente à TechCrunch, Matt Garman, o CEO da AWS, afirmou que, com a rapidez a que a indústria de inteligência artificial está a evoluir e o constante surgimento de novas startups no setor, a empresa precisava retomar um modelo mais próximo dos seus ‘early days’, quando servia como ponto de partida para novos negócios. É uma postura que deixa Amélie entusiasmada, dado que já foi líder da área de startups da AWS em França. “As startups são a alma da AWS. Nós nascemos com startups. As nossas primeiras startups são agora empresas muito populares como a Netflix e a Airbnb. Nós criámos o AWS for Startups há cinco, seis anos para terem uma equipa dedicada a servi-las. Investir recursos em startups é fundamental porque a área de Enterprise impacta na escala, claro, mas as startups tiram mais rapidamente proveito da tecnologia e dos benefícios do ecossistema”.
Além da já referida Amazon Bedrock, o ecossistema de IA da AWS inclui também uma infraestrutura robusta de GPUs, chips e data centers, onde as empresas podem executar os seus modelos. Outro componente importante é o Amazon Q, um chatbot com diversas aplicações, desde a produção e correção de código até à criação de serviços úteis em áreas como a educação e a saúde.
Todas tiveram a sua quota de protagonismo durante o evento, tanto no palco principal como na área de exposição. Alguns exemplos foram:
- A AI Stylist, uma aplicação que permite uma nova experiência de compras. Com recurso a funcionalidades do Amazon Bedrock, esta ferramenta permite aos clientes criar visuais através da combinação de diferentes peças de roupa.
- A genAI Nutrition, que aproveita a arquitetura serverless e os serviços da AWS para fornecer uma solução escalável, segura e eficiente em termos de custos para os clientes.
- A genAI Educational assistant, que ajuda os estudantes a melhorarem o processo de estudo: gera transcrições de aulas, resumos e flashcards em 12 idiomas, e que tem a capacidade de completar tarefas com informações adicionais.
- A Medical genAI Assistant, que transcreve consultas em tempo real, gera resumos, agiliza o processo de documentação e obtém informações adicionais (que os médicos podem necessitar para os seus diagnósticos). Esta ferramenta permite ao médico libertar-se de procedimentos administrativos e focar-se exclusivamente no paciente, o que pode significar ganhos grandes de eficiência e de qualidade no atendimento médico.
Nos próximos 12 meses
É difícil saber qual será o panorama da inteligência artificial. A indústria está no centro de um conflito geopolítico, com Europa, EUA e China a competirem pela liderança tecnológica. Ao mesmo tempo, as empresas enfrentam a necessidade de adaptar os seus produtos e cumprir regulamentações específicas para conseguir alcançar o maior número de utilizadores em cada uma destas regiões.
Esta é uma realidade tanto para a AWS como para as organizações com as quais trabalha. No entanto, a Managing Director da AWS, Amélie Veron, acredita que a empresa pode desempenhar um papel fundamental nesta dinâmica. “Nós estamos a tratar de tudo e os nossos clientes só têm de assegurar que estão a desenvolver o melhor produto para os seus utilizadores. Estou na AWS há vários anos, trabalhei em França, em Espanha, em Itália e em Portugal, e esta é uma constante para todos os tipos de clientes. Querem a melhor escolha, querem ser capazes de escolher diferentes produtos, querem pagar por utilização e querem fazê-lo num ambiente seguro”.
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