Em entrevista à agência Lusa, à margem dum seminário sobre “Inteligência Artificial e o ChatGPT - Disrupção Pedagógica no Ensino”, que decorreu hoje, no Porto, o presidente da presidente da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial (APPIA), afirmou que as novas aplicações e ferramentas de Inteligência Artificial (IA) como a ChatGPT vão destruir muitos empregos, mas, por outro lado, vão também permitir ao ser humano trabalhar menos e ser mais feliz.
“No futuro, penso que esta revolução da IA e da robótica, que vai surgir a seguir, vai retirar emprego, mas o que penso sobretudo é que os humanos vão trabalhar menos no futuro. Trabalhar menos em tarefas mais interessantes, deixando para as máquinas grande parte das tarefas menos interessantes”, disse Luís Paulo Reis, considerando que o objetivo da IA é ajudar o ser humano a ser mais feliz, tendo as máquinas a trabalhar para e com a espécie humana.
O cientista da era da Inteligência Artificial e da Robótica reconhece, todavia, que a automação em geral, a transição digital, a digitalização, a inteligência artificial e a robótica vão retirar muitos empregos.
“Há empregos que vão desaparecer. O emprego de camionista, maquinista, motorista de autocarro. Muito desses empregos, muito provavelmente, vão desaparecer num futuro próximo e muito outros vão desaparecer, inclusivamente , o emprego do programador básico que faz programas simples. Neste momento é facilmente substituível por uma IA, que é capaz de programar com uma descrição de alto nível um programa equivalente ao que essa pessoa faria”, explica.
No entanto há outros empregos que vão ser potenciados, como os “empregos mais criativos”, ressalva.
Os modelos de inteligência artificial generativa, como as ChatGPT, são capazes de a partir de um texto simples gerar, criar textos extremamente complexos, com resposta a questões, com criação de novas questões, criação de conteúdo, peças jornalísticas, programas para disciplinas do ensino superior ou do ensino secundários, respostas a exames, criar inclusivamente exames, são capazes de ajudar a criar todo o tipo de textos ou desenvolver tarefas que levaríamos imenso tempo a desenvolvê-las e que podemos desenvolver muito mais rápido, exemplificou Luís Paulo Reis.
Em termos de benefícios, Luís Paulo Reis refere que o ChatGPT vai permitir, sobretudo, a “aceleração” do trabalho do dia a dia, “na forma de aprendizagem” ou na “forma de desenvolvimento de trabalho científico”.
“Usando este tipo de ferramentas, conseguimos acelerar imenso e ser muito mais produtivos”.
Há também riscos de fraude, alerta, e por isso vai ter de haver um “modelo rigoroso para que IA seja treinada com dados corretos”
“Estamos a chegar a um novo mundo com a IA, em que as tarefas intelectuais dos humanos deixam de ser exclusivas dos humanos e parece que as vão fazer melhor que nós. A tecnologia é imparável e temos que nos adaptar aos novos desafios”, defende, lembrando os tratores também substituirão os cavalos no passado.
O cientista recordou que já existem robots comerciais que nos representam, mas ainda muito simples e que no futuro existirão aplicações, robots que podem representar o ser humano em reuniões e que se vão poder controlar à distância.
O presidente da Associação Portuguesa de Inteligência Artificial acredita que as pessoas que trabalham no meio de IA não vão ter falta de emprego.
O cientista disse que os estudantes que estão a terminar agora o 12.º e que queiram seguir esta área, devem seguir engenharia informática de computação ou a área da Inteligência Artificial e Ciência de Dados, em que há já um curso da cooperação entre a Faculdade de Ciências e de Engenharia da Universidade do Porto.
“Esta área é excelente quer a nível de vencimento para os profissionais que se licenciam, sobretudo que fazem mestrados ou doutoramentos nesta área, conseguem excelentes empregos em empresas de topo, na Google, na Google DeepMind Technologies, na Sonny, nas grandes empresas mundiais, porque é uma área que precisa de imensos profissionais muito qualificados que sejam capazes de criar as novas ferramentas de IA e os novos robots”.
Questionado pela Lusa sobre quais as qualidades que os alunos devem ter para entrar nestes cursos de IA, o especialista e professor na faculdade de Engenharia do Porto mais cerca de 400 publicações científicas em revistas científicas sublinha que os alunos precisam de ser “inteligentes”.
“A inteligência é aquela capacidade de resolver novos problemas através da utilização de conhecimento”, explicou, elencando que a matemática mostra muitas vezes a inteligência, porque a matemática “é isso”.
“Nós vamos sempre resolver novos problemas utilizando o conhecimento, mas a física, a lógica, a capacidade algorítmica. O método para resolver um problema” ou “qualidades interpessoais” são todos importantes para realizar um curso destes no ensino superior.
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