A Meta, empresa liderada por Mark Zuckerberg responsável pelo Facebook, fez saber no final da semana passada que vai implementar alterações naquela que é a maior rede social do mundo. A mudança mais preponderante é uma bem notória e visível: vai começar a parecer-se muito com o TikTok.
O feed inicial vai estar agora preenchido com publicações que são sugeridas por um algoritmo, que terão por base o tipo de conteúdo que o Facebook pensa que o utilizador tem mais probabilidades de gostar e de se envolver.
Noutros termos: os utilizadores vão ver de imediato os Reels (a ferramenta de vídeo semelhante ao TikTok) e as Stories mais populares e que o algoritmo pensa que é ideal para o nosso scroll.
Porque é que isto é notícia: porque marca a mudança de paradigma do Facebook. Ao retirar o conteúdo pessoal do utilizador do menu principal, a experiência de navegação vai assemelhar-se muito mais a uma plataforma de conteúdos do que a uma rede social.
Neste caso, numa plataforma de entretenimento e transações (compras) ao estilo do TikTok, que tem desafiado cada vez mais o seu domínio — tanto no espectro ligado ao engagement com os utilizadores, como na publicidade nos dispositivos móveis.
Mas porquê mudar agora? Segundo a Axios, esta mudança acontece em parte devido à pressão e ao aperto das regras em torno das redes sociais para que estas assumam as responsabilidades daquilo que se passa na sua casa. Mais especificamente, a prioridade no futuro passará por aprimorar questões relacionadas com a privacidade e tratamento dos dados dos utilizadores — algo que prejudica o seu atual modelo de negócio de venda de anúncios e publicidade.
A decisão também acontece numa altura em os legisladores nos Estados Unidos já colocaram em cima da mesa um decreto-lei que visa obrigar as grandes empresas tecnológicas a ter que dar a opção de escolha aos seus utilizadores, nomeadamente se querem ou não que sejam algoritmos a recomendar aquilo que lhes aparece no seu feed.
Mais: em fevereiro, a rede social transmitiu aos seus investidores que as restrições da Apple ligadas à privacidade iam custar 10 mil milhões de dólares de receitas em anúncios de publicidade em 2022.
O que diz o Facebook sobre as alterações. Em comunicado, a rede social fez saber que as alterações têm uma finalidade bem definida: a de dar aos utilizadores mais controlo e poder sobre o que vêem e descobrem na plataforma.
De realçar: o Facebook vai continuar a permitir que amigos e famílias permaneçam ligados. Aliás, até vai criar uma tab específica em que as publicações serão ordenadas cronologicamente, algo que os utilizadores há muito desejavam;
No entanto, a realidade é que esta mudança cronológica não é bem inocente porque também vai ajudar o Facebook a esquivar-se das críticas ou possíveis sanções dos órgãos reguladores, nomeadamente com aquilo que os utilizadores estão a ver no feed. Isto é, de que o seu algoritmo “escolhe” e “prioritiza” o que estamos a ver.
O resumo. Explica a Axios que o principal player das redes sociais se está a transformar numa espécie de meio de comunicação social gigantesco, que está a pôr todas as fichas nas reações dos seus utilizadores (com uma ajudinha da inteligência artificial dos algoritmos), que vão ditar a seleção do conteúdo que vemos.
No entanto, continua a existir uma perda de ligação e interação. O “social” das redes sociais está cada vez mais em segundo plano em detrimento do conteúdo decidido por likes e algoritmos, virado para marcas e influenciadores. E a procura por "viralidade" poderá trazer uma série de problemas de desinformação.
No fundo, o Facebook agora é mais uma operação oleada que serve mais de legado do que aposta no futuro (não esquecer o plano a dez anos, até 2030, para apostar no Metaverso). O que até pode nem ser mau de todo já que abre espaços para outros crescerem, como é o caso do Discord, que vão tentar agarrar o público das pequenas comunidades e grupos.
Ora, é por tudo isto que a Axios enfatiza que a Web 2.0, a das redes sociais e da partilha, tal como a conhecemos, pode ter chegado ao fim. Angariar amigos e criar ligações online já não é o que era no início dos anos 2000 — a Internet evoluiu e os modelos de negócios, agora muito à base das micro-transações e subscrições, também. E o maior player de todos, com quase três mil milhões de utilizadores, acabou de o sinalizar ao mundo inteiro.
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