“Quando se diz que mais vale fumar um charro de vez em quando do que cigarros, isto significa que algo está em marcha para passar uma mensagem. São ideias falseadas, mas que são muito difíceis de negar. Muito complicado, porque mesmo com dados e evidências não se consegue”, observou Jesus Cartel, coordenador científico da Clínica do Outeiro.

“As redes sociais estão a ser utilizadas para passar publicidade e fazer ‘marketing’ sobre o uso benéfico de drogas para o tratamento de doenças com resultados positivos para a saúde”, alertou por seu lado João Curto, presidente Associação Portuguesa de Adictologia, uma opinião partilhada por Jorge Barbosa, coordenador do Centro de Respostas Integradas Porto Oriental, do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos, durante um debate que decorreu na cidade do Porto.

Os especialistas referem ainda que os narcotraficantes utilizam ‘blogues’ para passarem a mensagem e aproveitam também a Internet para vender “canabinoides sintéticos”.

No âmbito da política atual para os comportamentos aditivos estão a ser discutidas três políticas, designadamente a reorganização de um serviço nacional, vertical e especializado na área dos comportamentos e dependências, a legalização da ‘cannabis’ e a implementação de salas de consumo assistido, explicou Jorge Barbosa, lamentando a extinção do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) e por um retrocesso na articulação para a prevenção.

Entre 60% a 66% dos dependentes de drogas que estão em tratamento têm doenças mentais, referiram ainda os especialistas.

Segundo Jesus Cartelle, coordenador científico da Clinica do Outeiro, em muitos casos a droga estimula o surgimento da doença, a patologia, mas refere que as pessoas já traziam fatores de risco.

Para apoiar os jovens a combater os estímulos nas redes sociais promovidos na Internet pelos narcotraficantes, os especialistas aconselham que é preciso desmistificar as mensagens dos benefícios na saúde, discutindo com os jovens esse assunto, pedindo, por exemplo, um nome de um médico a admitir cientificamente essas informações.

Trabalhar os limites de horários e os critérios de utilização da Internet e dos telemóveis com os jovens é outro dos conselhos deixados pelos especialistas, que debateram vários temas hoje à tarde durante mais de três horas na Associação Portuguesa de Mutualidades, no Porto, onde foi promovido um debate denominado “Ação Mundial por Comunidades Saudáveis Sem Drogas e visa assinalar o Dia Mundial do Combate às Drogas”.

No início deste mês, o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência revelava que mais de 93 milhões de europeus experimentaram algum tipo de droga ilícita em 2016.

Pelo terceiro ano consecutivo aumentou o número de casos de morte por ‘overdose’ na Europa e, só em Portugal, registaram-se em 2016, 39 mortes induzidas por droga.

A 'cannabis' é a droga mais experimentada, seguida da cocaína. No último ano 23,5 milhões consumiram ‘cannabis’, enquanto 87,7 milhões tiveram, ao menos, uma experiência.

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