O lançamento do James Webb, que tem um instrumento calibrado pela astrónoma portuguesa Catarina Alves de Oliveira e a segurança das operações supervisionada por engenheiros do ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade, está previsto para sexta-feira, às 12:20 (hora de Lisboa), a bordo do foguetão de fabrico europeu Ariane 5, da base europeia de Kourou, na Guiana Francesa.

O telescópio, que tem o nome de um antigo dirigente da agência espacial norte-americana (NASA), que lidera o projeto, é uma “empreitada” com mais de 30 anos e a sua história escreve-se de recordes de engenharia, orçamento e prazos de lançamento.

O James Webb esteve para ser lançado em 2007, mas, ano após ano, os adiamentos foram-se sucedendo, o mais recente dos quais ocorreu em meados de dezembro devido a um problema de comunicação entre o telescópio e o foguetão, em vésperas do lançamento.

Os custos, estimados inicialmente em 500 milhões de dólares (443 milhões de euros), superaram os 10 mil milhões de dólares (8,8 mil milhões de euros).

Não obstante as derrapagens, o James Webb é o maior e mais potente telescópio espacial, destronando o seu antecessor, o “velhinho” Hubble, há 31 anos em órbita, a 570 quilómetros da Terra.

O espelho principal do Webb tem 6,5 metros de diâmetro (mais 4,1 metros do que o do Hubble) e é composto por 18 segmentos hexagonais que funcionam como um todo, melhorando a sua sensibilidade (100 vezes superior à do Hubble).

“Em astronomia, o tamanho de um telescópio é fundamental. Quanto maior, mais fotões podem ser recolhidos, e por isso podemos ver objetos muito ténues e distantes, como as primeiras galáxias que existiram no Universo”, salientou à Lusa a astrofísica Elisabete da Cunha, do Centro Internacional de Investigação em Radioastronomia da Universidade da Austrália Ocidental.

Depois de uma “viagem” pelo espaço durante um mês, em que vai “desdobrando” os seus componentes para adquirir a sua configuração final, o James Webb ficará posicionado a 1,5 milhões de quilómetros da Terra.

O telescópio irá captar a luz de corpos celestes mais longínquos, de há 13,5 mil milhões de anos, quase a idade do Universo (de acordo com a teoria do Big Bang, o Universo terá 13,8 mil milhões de anos).

O “mais longe” que o Hubble “recuou” foi 12,5 mil milhões de anos, quando as estrelas e galáxias são jovens, registando a luz difundida por corpos celestes no visível, no ultravioleta e parte do infravermelho (invisíveis).

O Webb, além de observar as primeiras estrelas e galáxias, vai permitir “olhar para dentro” de nuvens de gás e poeira onde se estão a formar estrelas, galáxias e sistemas planetários mais “recentes”.

Com o novo telescópio, Elisabete da Cunha espera “conseguir, pela primeira vez, fazer um mapa da distribuição das estrelas” em galáxias distantes que “são verdadeiros monstros cósmicos, que estão a formar centenas e, até, milhares de novas estrelas por ano”.

“Estas galáxias distantes são das galáxias que formam estrelas mais rapidamente no Universo, mas, por terem quantidades enormes de poeira cósmica, até agora nunca foi possível observar diretamente as suas estrelas”, assinalou, acrescentando que vai “desenvolver modelos computacionais que possibilitam medir as propriedades físicas das galáxias” a partir das observações com o Webb, como a massa e a quantidade de poeira.

Os astrónomos vão poder, ainda, descobrir e estudar melhor planetas extrassolares e as suas atmosferas, “chegar” a zonas obscuras do Sistema Solar, compreender de forma mais afinada as origens da vida e procurar sinais de vida extraterrestre.

Tudo porque o James Webb está capacitado para registar a luz infravermelha (luz invisível) emitida por corpos celestes com uma sensibilidade sem precedentes.

Os seus instrumentos científicos, quatro ao todo, decompõem a luz nos seus diferentes comprimentos de onda e focalizam-na num detetor para formar um espetro.

As propriedades de átomos e moléculas deixam assinaturas no espetro, que revela características dos corpos celestes, como temperatura, composição química, idade, densidade e movimento.

O novo telescópio resulta de uma parceria entre a NASA e as congéneres europeia (ESA) e canadiana (CSA).

Todos os Estados-Membros da ESA, incluindo Portugal, contribuem para o James Webb através do Programa Científico.

Os cientistas europeus terão direito a 15 por cento do tempo de observação do telescópio assim que estiver operacional, o que se espera que aconteça seis meses após o seu lançamento. Os primeiros dados científicos são aguardados ainda em meados de 2022.

Apesar de ser o maior e mais potente telescópio espacial, o James Webb tem uma limitação: não pode ser reparado em órbita, ao contrário do Hubble, devido à sua distância da Terra, pelo que a sua “esperança de vida” é curta, de cinco a dez anos.

Contudo, foram precisos mais de 30 anos para o desenvolver e construir.

As expectativas da astrofísica portuguesa Elisabete da Cunha são muitas. Para ela, “quase de certeza” que o novo telescópio “vai trazer surpresas e descobertas inesperadas sobre o Universo primordial”.

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