No passado dia 28 de junho, a Google anunciou o Equiano, o seu novo cabo submarino que vai ligar Portugal a África do Sul e, consequentemente, África à Europa.

"Hoje estamos a introduzir o Equiano, o nosso novo cabo privado submarino que irá conectar África com a Europa. Uma vez concluída [a obra], o cabo começará na Europa ocidental e atravessará a costa oeste de África, entre Portugal e África do Sul", com áreas ao longo do traçado que permitem alargar conectividade adicional a países africanos, lia-se no blogue da Google.

Este novo cabo será totalmente financiado pela tecnológica, sendo o terceiro cabo internacional privado depois do Dunant e do Curie, e o 14.º investimento em cabos submarinos a nível global.

Explica a empresa que "os cabos submarinos privados da Google carregam todos os nomes de luminares históricos e Equiano não é diferente”, salientando que o nome atribuído se deve a Olaudah Equiano, um escritor e abolicionista nigeriano que foi escravizado em criança.

Aliás, a primeira ramificação da rota do cabo submarino, que parte do Sul de Portugal, será Nigéria.

Detalha a empresa que “o cabo Equiano é uma infraestrutura de última geração, assente na tecnologia SDM, com aproximadamente 20 vezes mais capacidade de rede do que o último cabo construído para servir esta região", afirma a Google.

O contrato para construir o cabo com a Alcatel Submarine Networks foi assinado no quarto trimestre do ano passado e a primeira fase do projeto, de ligar Portugal a África do Sul, deverá estar concluído em 2021.

Portugal “no centro do mundo”

No mesmo dia em que a tecnológica anunciou o investimento, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, salientou a iniciativa era reflexo da “importância da localização geográfica” de Portugal.

“É importante perceber que em Portugal se vai concentrar um grande centro de recolha e transmissão de dados que é proporcionado por este investimento muito significativo”, destacou Pedro Siza Vieira, realçando ainda a “importância da localização geográfica” de Portugal, que está agora “no centro do mundo”.

“Portugal é o ponto europeu mais próximo das américas e áfricas”, vincou.

Considerando este um “investimento muito significativo”, Pedro Siza Vieira não precisou à data o valor que a multinacional americana irá aplicar em Portugal, ou os postos de trabalho que serão criados.

De referir que nos últimos três anos a Google investiu 47 mil milhões de dólares (41,3 mil milhões de euros, à taxa de câmbio atual) na sua infraestrutura, em termos globais.

A localização geográfica pode ainda permitir, do ponto de vista do transporte marítimo e das telecomunicações, que o território português permita “aproximar os continentes”.

A aposta, para o governante, deve continuar a ser o reforço do investimento nos portos, aeroportos e transmissões de dados, “que hoje em dia são a grande riqueza do mundo”.

Mais investimento e novos modelos de negócio para Portugal

Dias mais tarde, o Secretário de Estado da Internacionalização garantiu que o Governo português "está a trabalhar" para captar investimentos que utilizem a mais-valia do novo cabo submarino da Google.

Em declarações à Lusa a 2 de julho, Eurico Brilhante Dias disse o projeto Equiano, "quando estiver a funcionar, significa para Portugal mais modelos de negócio, baseados em talento e gente qualificada, e que utilizem aquele cabo, que leva e traz dados, muito importantes na economia digital”.

"Este projeto dá a Portugal uma valência adicional para captar investimento na área das tecnologias de informação e tratamento de dados, que nos permitem também gerar emprego muito associado à engenharia de sistemas, de telecomunicações e matemáticos", defendeu.

Porém, Brilhante Dias também não esconde a vontade de ver empresas portuguesas a participar no próprio projeto da Google, mas sublinha que não existem quaisquer contactos do Governo com a empresa nesse sentido.

"Este é um investimento da Google, que escolheu Portugal, sem recurso a incentivos fiscais. Mas o que gostaríamos era que mais empresas portuguesas pudessem participar nesse investimento. Sabemos que, em princípio, o território nacional tem dois locais de amarração e que terão necessariamente trabalho para empresas portuguesas", afirmou.

Para Brilhante Dias, o Equiano da Google, com amarração da Europa à África no território português, tem ainda "a grande importância" de multiplicar a capacidade de ligação e transmissão de dados entre os dois continentes num momento em que Portugal assumirá a presidência da União Europeia - porque se prevê que a amarração esteja concluída em 2021 -, "durante a qual as relações entre a Europa e a África vão ser tema central, tal como já foi anunciado pelo primeiro-ministro, António Costa".

Este aspeto, "vem reforçar a centralidade do país na relação das comunicações com África", acrescentou.

"E aquilo que estamos a ver é o que o novo cabo nos traz para podermos captar mais investimento e desenvolver novos modelos de negócio para Portugal", reiterou.

"Estes negócios, multiplicando-se por 20 as comunicações, podem-nos trazer todo um ecossistema. Para termos uma ideia, um centro de dados de dimensão média pode gerar 300 postos de trabalho. Aquilo que sabemos é que todos os negócios à volta dos dados são intensivos em engenheiros, muita gente ligada ao tratamento de dados, matemáticos e, ao mesmo tempo, pilares de grandes multinacionais que acumulam e transmitem dados. O potencial de geração e trabalho nesta área é muito elevado", concluiu.