“Nunca antes tantos concorrentes colaboraram de forma tão aberta e frequente, nunca antes tantos candidatos avançaram para testes de eficácia em grande escala, nunca antes governos, indústria, academia e organizações sem fins lucrativos gastaram tanto dinheiro, músculo e inteligência na mesma doença infecciosa em tão curto prazo”, escreve o colaborador da revista Jon Cohen, citado numa nota da Associação Americana para o Avanço da Ciência, que edita a publicação.
A revista realça, num artigo que acompanha a escolha do avanço científico de 2020, que a “velocidade sem precedentes” com que vacinas eficazes para a covid-19 foram desenvolvidas “levou a acidentes e, de muitas maneiras, revelou fissuras alarmantes entre cientistas e decisores políticos”.
A candidata russa Sputnik V, apresentada ao mundo com uma eficácia de 95 por cento, foi aprovada no verão pelas autoridades do país, antes de arrancarem os devidos testes finais com milhares de voluntários, gerando desconfiança na comunidade científica.
Alguns laboratórios suspenderam temporariamente os seus ensaios clínicos devido a incidentes com participantes.
A covid-19 é uma doença respiratória causada por um novo coronavírus (tipo de vírus) detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China, e que rapidamente se disseminou pelo mundo.
A 11 de março, a Organização Mundial da Saúde declarou a covid-19 como uma pandemia. Desde 30 de janeiro, a doença é uma emergência de saúde pública internacional.
Em menos de um ano, várias vacinas experimentais contra a covid-19 – chinesas, russa e norte-americana – foram autorizadas e administradas na China, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.
Portugal espera iniciar a sua campanha de vacinação no início de janeiro, ou mesmo uns dias antes.
Esta semana, numa conferência coorganizada pelo JN, o virologista Pedro Simas, que trabalha no Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa, assinalou que o desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19 em tempo recorde resultou do avanço tecnológico, do conhecimento científico de décadas sobre coronavírus e da concentração de esforços entre a indústria e a ciência “para cortar todas as burocracias”.
“Na ciência não há milagres”, frisou.
Em condições normais, a produção de uma vacina pode demorar, em média, 10 anos devido ao crivo de sucessivos testes de segurança e eficácia.
Na edição de hoje, a Science fornece ainda uma cronologia dos marcos da investigação da covid-19 e homenageia 11 cientistas que morreram infetados com o coronavírus SARS-CoV-2.
Em Portugal, na comunidade científica, a covid-19 vitimou a imunologista Maria de Sousa, que morreu em 14 de abril, aos 80 anos.
A pandemia da covid-19 provocou pelo menos mais de 1,6 milhões de mortos resultantes de mais de 73,4 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência noticiosa francesa AFP.
Em Portugal, morreram mais de 5.800 pessoas dos mais 350 mil casos de infeção confirmados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
Os Estados Unidos são o país do mundo mais afetado pela pandemia (mais de 303 mil mortos em mais de 16,7 milhões de infetados) e o Reino Unido o segundo país europeu (mais de 64 mil mortos em mais de 1,8 milhões de infetados).
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