“Há muito anos que preveem que vai acabar, mas ainda não desapareceu”, reconheceu em declarações à agência Lusa o presidente do Instituto Superior Técnico, Arlindo Oliveira.
“É difícil fazer futurologia, mesmo com o aparecimento de ferramentas de “messaging” com interfaces mais adequadas, mas o e-mail deverá continuar, mesmo com um papel mais complementar”.
Previsões da indústria apontam para um crescimento pelo menos até 2023 de uma forma de comunicação que teve um impacto global na comunicação remota, com reflexos mais visíveis no correio em papel, jocosamente chamado “correio caracol” pelos entusiastas da Internet que descobriram a possibilidade de comunicar instantaneamente com outros internautas, quer estivessem no outro lado do mundo ou no outro lado da rua.
Segundo o portal alemão de estatísticas ‘online’ Statista em 2018 havia cerca 3,8 mil milhões de pessoas a usar o correio eletrónico, que serviu nesse ano para mandar cerca de 281 mil milhões de mensagens por dia.
Na previsão do Statista, em 2023, o número de utilizadores deverá subir para 4,4 mil milhões e a quantidade de mensagens enviadas por dia poderá atingir 347 mil milhões.
Em 2018, 43% dos utilizadores de email consultavam as suas mensagens num telemóvel, 39% em serviços ‘online’ e só 18% baseavam o seu correio eletrónico numa conta localizada no computador pessoal.
Num artigo publicado em 2015 na revista de economia norte-americana Inc., chamava-se ao e-mail “um buraco negro”, enumerando problemas como a falta de respostas ou a circunstância em que uma troca de mensagens com “vários assuntos e várias pessoas” se torna algo “de que ninguém consegue fazer sentido”.
Isso, sem contar com o ‘spam’, que vai das mensagens publicitárias e promocionais às que propagam vírus e outro ‘software’ nocivo, e que em março deste ano constituía 56% de todo o e-mail enviado no mundo, um número que tem vindo a descer ano a ano.
Arlindo Oliveira aponta este tipo de mensagens indesejadas como “uma inevitabilidade”, embora já haja “tecnologia para mudar isso, só que ainda não foi implementada, porque se torna mais exigente na autenticação”, além de ter implicações na liberdade das comunicações.
“É difícil gerir a qualidade do que se recebe no e-mail, mas a verdade é que isso também se tem visto nos serviços de ‘messaging’”, assinalou.
Já em 2010, publicações como a revista Atlantic ou o New York Times dedicavam atenção à maneira como as gerações mais jovens se desligavam do e-mail em favor de serviços de mensagens instantâneas emergentes como o serviço de conversação da rede social Facebook.
“Ter uma conta de e-mail em 2010 é sinal de que se é um ‘bota de elástico’, o tipo de pessoa que ainda vê filmes em VHS, ouve discos de vinil e tira fotografias com rolo”, ilustrava o New York Times.
O crescimento das redes sociais como o Facebook, Instagram ou das aplicações de mensagens como o Whatsapp, a disseminação dos ‘smartphones’ manifesta-se hoje nas mais de 41 milhões de mensagens enviadas por dispositivos móveis por minuto, como regista o Statista.
O Whatsapp é o mais popular, com uma estimativa de 1,6 mil milhões de utilizadores em todo o mundo, seguido do Messenger do Facebook e das aplicações chinesas QQ e WeChat.
De aplicações que permitiam mandar mensagens de graça – evitando os custos dos SMS – passaram a incluir cada vez mais funções, incluindo imagens e vídeo.
“O e-mail poderá ter um papel mais reduzido, reservado para uma comunicação ponto a ponto, mais profissional”, sugeriu Arlindo Oliveira.
“O e-mail está morto. Saiba porquê”, “O e-mail tem os dias contados”, “O e-mail vai estar obsoleto em 2020” são títulos da última década que enxameiam as páginas de jornais de referência ou revistas da especialidade, mas neste momento, o mais adequado talvez seja o de um artigo da revista Forbes em junho deste ano: “É capaz de ser altura de parar de anunciar a morte do e-mail”.
Na página internetlivestats.com, que rastreia em tempo real os números da utilização da Internet, o contador de emails enviados só este ano tem 76 biliões de provas de que as caixas de entrada não terão descanso tão cedo, à razão de mais de um milhão por segundo.
(Notícia corrigida às 18h02 - Faz hoje 50 anos que foi enviada a primeira mensagem entre dois computadores separados fisicamente; no entanto, o e-mail só foi inventado dois anos mais tarde, em 1971)
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