Uma seleção de 86 obras, que o chamado “ouro branco” comprou naquele período de grande prosperidade económica, foi hoje apresentada aos jornalistas durante a visita guiada à exposição que abre as celebrações dos 600 anos da descoberta da Madeira.
“As ilhas do ouro branco – Encomenda Artística na Madeira (séculos XV-XVI)” será inaugurada na quarta-feira, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), e abre ao público no dia seguinte.
“Esta é uma história que merece ser contada, e que se enquadra totalmente na missão do Museu de Arte Antiga: de estudar, afirmar e divulgar o património nacional”, sublinhou o diretor do MNAA, António Filipe Pimentel, antes da visita.
A mostra abre com um vídeo que ocupa uma parede da sala de entrada, onde são exibidas imagens da natureza, “que estão na base do encantamento que a ilha da Madeira provocou”, salientou um dos comissários, Francisco Clode de Sousa.
“Era uma terra virgem, um paraíso, onde não havia população autóctone e foi uma tarefa ciclópica desbravá-la”, apontou, recordando o início do povoamento da Madeira, no século XV.
Fernando António Baptista Pereira, outro dos comissários, recordou que foram os cereais o primeiro ciclo económico do arquipélago, só depois substituídos pelo açúcar.
Foi este “ouro branco” escoado para os mercados europeus, numa altura em que o açúcar ainda era raro e caro, que proporcionou um enorme desenvolvimento local na Madeira.
Os mercadores que levavam o açúcar para Bruges e Antuérpia, entre outras cidades da Flandres, regressavam regularmente à Madeira com muitas obras de arte, sobretudo de caráter religioso, entre pintura, escultura, artes decorativas e ourivesaria.
Na exposição, o público poderá ver, segundo os comissários, “a mais importante e emblemática escultura da Madeira, com extraordinária qualidade do entalhe escultórico”, uma Virgem e o Menino do século XVI, proveniente da Flandres.
Outras obras em destaque, da Flandres, são o Retábulo dos Reis Magos, de uma oficina de Antuérpia, de 1530, um óleo sobre madeira dourada e policromada, e o tríptico de Jan Provost, da escola flamenga, de 1529, com Nossa Senhora da Misericórdia ao centro, ladeada pelos santos Cristóvão, Paulo, Pedro e Sebastião.
Proveniente da Ásia, a cana-de-açúcar terá começado a ser importada da Sicília pelo Infante D. Henrique, que introduziu o seu cultivo na Madeira, um projeto de rápida expansão.
O consumo do “ouro branco” aumentou, assim, por toda a Europa, alterando hábitos alimentares e algumas práticas medicinais.
Esta exposição vai marcar o arranque das Comemorações dos 600 Anos do Descobrimento da Madeira, e ilustra a especificidade da encomenda artística madeirense a oficinas nacionais, espanholas e flamengas.
A visita contou com a presença da secretária regional do Turismo e Cultura da Madeira, Paula Cabaço, que sublinhou o início das celebrações em Lisboa, “de onde partiram os Descobrimentos”, e vão prolongar-se até 2018 e 2019.
A exposição ficará patente ao público no MNAA até 18 de março de 2018.
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