“Portugal afirmou-se como uma entidade inabalável qual cana de bambu que verga, mas não parte”, defende o historiador, referindo a posição geográfica “periférica” de Portugal que o afastou de guerras, mas o centralizou nas comunicações europeias e oceânicas.

“Portugal na História - Uma identidade” é apresentado terça-feira, às 18:30, no El Corte Inglés, em Lisboa, pelo antigo ministro Guilherme d’Oliveira Martins.

Na análise de Oliveira e Costa, explanada nesta obra de 640 páginas, saída com a chancela dupla de Temas e Debates/Círculo de Leitores, Portugal “teve a capacidade de usar as montanhas para se defender e aproveitar o mar para alargar fronteiras e negócios”.

Segundo o historiador, que realça o facto de os portugueses constituírem uma comunidade com língua própria, “a identidade do povo português foi forjada pela articulação e sedimentação de préstimos e influências de variadíssimas origens, e assim continua a evoluir num processo sempre inacabado”.

O professor do departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humana da Universidade Nova de Lisboa reconhece que hoje se vive num “mundo de incertezas […] tal qual os antepassados [que] também encararam com angústia as guerras, as fomes e as injustiças dos seus tempos”.

“Vivemos também numa sociedade reivindicativa, porque o presente raramente satisfaz, mesmo que as nossas vidas sejam melhores que as dos nossos avós”. Uma insatisfação que “tende a culpabilizar passado”, argumentou o autor.

Todavia, apesar de quanto incerto é o futuro, o historiador João Paulo Oliveira e Costa atesta que este “incluirá decerto Portugal e os portugueses, como entidade e identidade coparticipantes ativas do devir da humanidade”.

A obra divide-se em duas partes, ambas subdivididas em capítulos e subcapítulos: a primeira parte, “Permanência”, refere o território, incluindo as ilhas, as diferentes heranças sentidas no espaço, abordando ainda as “vivências”, onde se incluem a língua, as práticas religiosas e a ocupação do território.

Aqui, Oliveira e Costa aborda também o Estado, a sociedade e a cultura, e apresenta o país como “interface do mundo”, afirmando “descobrir o mundo através de Lisboa”.

Na segunda parte, “Os Ritmos do Tempo”, o historiador reflete sobre os “vislumbres de um ‘grande ocidente’ peninsular”, a afirmação de um espaço luso-galaico, para então abordar a unidade política inicial que foi o Condado Portucalense (868-1128), bem como o evoluir do país até 1822, ano em que é proclamada a primeira Constituição do país.

Os dois últimos subcapítulos abordam a contemporaneidade pós-25 de Abril de 1974: “A Pertinácia de Uma Entidade Pluricontinental (1822-1975)” e “Afinal Global (1975-…)”, onde se debruça sobre temas como as rivalidades partidárias e realça “o peso discreto [de Portugal] na História”.

As últimas questões de reflexão intitula-as “Fado. Futebol e Fátima”, “Tropicalismo” e “O museu universal dos Descobrimentos”, afirmando que Portugal foi “um país sempre assumidamente europeu”, periférico do ponto de vista territorial, “mas central do ponto de vista da linha costeira”.