"Orlando e o rinoceronte" é protagonizado por um rapaz de oito anos que recebe um postal do pai com a representação de um rinoceronte. É o ponto de partida para Orlando ouvir do tio Tristão, a viver no Brasil, a história verídica, trágica e marítima, da viagem de um rinoceronte no tempo dos Descobrimentos.
De acordo com Alexandra Lucas Coelho, a história deste livro surgiu quando escrevia o romance "Deus-dará", de 2016, no qual um dos protagonistas é Tristão, tio de Orlando.
A pesquisa levou-a à história de um rinoceronte, oferecido em 1514 a Afonso de Albuquerque, vice-rei da Índia, que causou espanto em Lisboa e morreu num naufrágio quando foi recambiado para Roma. Essa viagem serviu de pretexto para a autora abordar o passado colonial português e relacioná-lo com Orlando.
"Portugal ainda tem dificuldades em lidar com esse passado colonial", afirma a escritora, sublinhando que é importante poder falar dele de uma outra maneira, que não está inscrita na habitual narrativa histórica sobre os Descobrimentos, sobre o esclavagismo ou sobre o colonialismo.
"O que vamos fazer com o passado muda as coisas, muda o presente e muda o futuro. (...) É importante saber que [Portugal] foi a maior potência esclavagista, isso faz parte da nossa história", defendeu Alexandra Lucas Coelho.
Em "Orlando e o rinoceronte", a autora assinalou essa ligação com o passado através da caracterização de Orlando. Filho de mãe ruiva e pai com carapinha, o rapaz possui uma farta cabeleira laranja, onde transporta a história dos antepassados.
O livro, editado pela Alfaguara, inaugura uma série a que a autora pretende dar continuidade, com mais histórias de Orlando. O próximo volume, planeado para a primavera de 2018, passar-se-á na Guiné-Bissau.
Segundo a autora, a ideia é fazer uma série de livros que lidem "com a vida, com a família, com o passado, com questões de género, tanta coisa que pode ainda ser contada para crianças".
"Orlando e o rinoceronte" conta ainda com ilustrações da própria escritora, ainda que admita um "medo de desenhar". São ilustrações mais sugestivas do que complementares ao texto, feitas com recurso a colagens, recortes, desenho e sobreposições.
"Eu queria que os leitores pudessem imaginar o seu rinoceronte. Hoje em dia as crianças estão completamente cercadas de imagens, vídeos, fotografias e quis que o livro fosse mais sugestivo, por isso deixei para o fim a imagem do rinoceronte", disse.
Alexandra Lucas Coelho trabalhou na rádio e na imprensa e publicou oito livros, entre romance e cadernos de viagens, nomeadamente "E a noite roda", "Deus-dará", "Cadernos afegão" e "Viva México".
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