Álvaro Siza Vieira esteve em conversa com o crítico norte-americano Paul Goldberger no Átrio David Rubenstein do Lincoln Center, a que assistiram cerca de 200 pessoas, sobre a carreira do aclamado arquiteto português.
“Para qualquer arquiteto, as hipóteses de construir algo em Manhattan são muito pequenas. Eu pensava que com a minha idade, ninguém me ia convidar”, disse o arquiteto que é responsável pela construção de uma torre residencial de luxo no número 611 da Rua 56.
O projeto foi anunciado há quatro anos, como uma encomenda das empresas Sumaida+Khurana e LENY. Sabe-se que a torre terá uma altura de 120 metros, 80 habitações de luxo e uma dimensão de cerca de 16 mil metros quadrados.
A proximidade com outros edifícios já existentes foi algo que preocupou o arquiteto ao início, mas depois de desenhar um primeiro modelo, percebeu que tinha muitas outras condicionantes ao seu trabalho.
Álvaro Siza disse que tem um engenheiro “fantástico” no projeto, com quem pode discutir todas as condições, necessidades e restrições de construção, como dar uma especial atenção à esquina do edifício que se vai situar na intersecção da 56 com a 11.ª Avenida.
O premiado arquiteto disse que em vários trabalhos, as referências aos edifícios nova-iorquinos eram muito frequentes, tendo acumulado conhecimentos sobre a construção da cidade, que é como se este não fosse o seu primeiro trabalho em Nova Iorque.
“Quase que posso dizer que estava habituado a fazer trabalhos em Nova Iorque”, disse Siza Vieira, mas lembrou que a realidade de contactar pessoalmente com os engenheiros e outros arquitetos é incomparável com a quantidade de estudo que tenha dedicado na teoria.
Álvaro Siza sublinhou a importância de manter “o diálogo com as pessoas que vivem aqui, que trabalham aqui” para descobrir e perceber melhor os vários fatores da vida na habitação que está a construir.
O arquiteto revelou que o sentimento que tem ao chegar a Nova Iorque é o mesmo que em Veneza, em Itália, um sentimento de viagem turística e de festa.
Álvaro Siza acrescentou que Nova Iorque tem a “qualidade” de os prédios aparecerem de repente e independentes um do outro e que as construções nessa cidade são muito diferentes umas das outras, sem um design comum que as alinhe e quase “sem preocupação pelo vizinho”, ao contrário das cidades antigas da Europa.
A conversa, conduzida por Paul Goldberger, focou-se em grande parte na carreira do arquiteto, desde a paixão pela escultura, os estudos em arquitetura, os primeiros projetos, e a fase de “paranoia da especialização” em habitação social, como Álvaro Siza referiu.
O arquiteto recordou momentos em que era convidado a sair de Portugal e a desenhar obras iguais ao que já tinha construído, mas disse que lhe é impossível fazer duas projeções iguais em países diferentes, porque sempre procurou entender o estilo e a linguagem da arquitetura de cada sítio.
Questionado pelo público sobre o que gostava de construir que ainda não o tenha feito, Siza respondeu que ia sempre procurar fazer “outra coisa” e que ainda não desenhou um estádio de futebol, por exemplo. “Eu sempre achei que cada novo projeto ia ser interessante, e foi”, disse.
Álvaro Siza disse também que acredita na “continuidade da arquitetura” e que o ritmo de transformação da arquitetura altera-se com as gerações, porque os jovens da atualidade podem viajar mais, estudar com facilidade noutros países e comunicar através da internet, oportunidades que não teve na juventude.
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