Cai uma chuva miúda. É quase uma breve humidade apenas, que vai encharcando o chão, as flores e as paredes da casa de Agustina Bessa-Luís, no Porto. Os muros altos escondem o universo de uma escritora que, apesar de estar em silêncio, continua atenta.
“Está silenciosa, mas atenta a tudo o que se passa e a todos e lúcida. Não comunica, mas eu acho que não comunica porque não quer comunicar, já comunicou tudo o que tinha a comunicar na vida dela”. Isto disse Mónica Baldaque, filha da escritora nascida em Amarante em 1922.
Depois de um AVC, em 2006, Agustina afastou-se da vida pública. A escritora, que coleciona prémios e honras, parou de escrever após ‘A Ronda da Noite’. Presença assídua na imprensa e em conferências, mergulhou num mistério.
Os jornais, as revistas e os comentadores apressaram-se a conjeturar razões, a discutir motivos, causas e sentidos. Que está demente, acometida de Alzheimer, atacada da cabeça. Tudo confabulações de quem não acredita que as vozes frequentes podem decidir calar-se — sem dramas, sem choques.
Algures na busca pelas memórias do Nobel, puseram-nos na frente a questão: “onde está Agustina?”. Estávamos à beira do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, numa esplanada sob o sol quente de verão. Meses depois, à boleia de um trabalho para a Universidade do Porto, pusemos pés ao caminho para a encontrar.
Agora, chove. A água vem já carregada, desabando sobre o Porto. Agustina faz anos. É 15 de outubro, o primeiro dia em que entramos na casa que construiu na Invicta. Por todo o lado há silêncio. Lourença Baldaque, neta de Agustina Bessa-Luís, abre o portão grande e leva-nos pelas entranhas de um labirinto.
Atrás da caixa de alvenaria há um refúgio. Um universo paralelo ao que corre à beira. Aqui, Agustina resguardou-se — embora sem fugir. “Há, em primeiro lugar, uma vontade própria e da autora em se afastar”, conta Lourença. E esta vontade é respeitada pela família — mesmo que nem a ela Agustina conte os motivos (exceto o “cansaço”), que a levaram ao silêncio.
Na passada sexta-feira, em Gaia, uma conferência baseada numa biografia não autorizada presumiu o universo de Agustina. Aqui, na casa da escritora de 96 anos, entramos no mundo que fez e que a fez — com a certeza de que, apesar do silêncio, Agustina Bessa-Luís “está bem, está serena”. “Está com uma vida que nunca teve”.
Quem é Agustina Bessa-Luís?
Ora bem, Agustina Bessa-Luís... [pausa] Quem é a Agustina? Uma vez, uma professora, uma académica que estudou bastante a obra da minha avó e com quem eu falei bastante, infelizmente ela já faleceu, disse-me que para conhecer a Agustina é preciso ler a obra, é lá que está a verdadeira Agustina — e, portanto, nada melhor do que ler os seus livros para perceber quem é a Agustina.
Mas, a Agustina é uma mulher com imenso sentido de humor, um humor muito sarcástico, muito insolente na sua literatura também — desde o início, desde o primeiro livro, na medida em que desafiou as convenções literárias.
É uma mulher sem medo, quem a conheceu também diz muito isso, e uma mulher muito disciplinada na sua escrita — ao contrário dos seus livros, que são um bocadinho indisciplinados; são labirínticos. É uma das razões pelas quais as pessoas muitas vezes desistem de ler a sua obra, embora na minha opinião ache que é uma das suas grandes mais-valias, é das coisas que mais me fascinam na sua obra, justamente esse lado labiríntico.
Enfim, é uma mulher que dedicou toda a sua vida à literatura. Tudo foi feito em função da escrita: a casa onde escolheu viver com o seu marido, o meu avô; as viagens que fez; as leituras que fez — tudo isso foi sempre em função da escrita, de um projeto de vida que foi o projeto literário.
E quem é a avó da Lourença?
É a mesma pessoa. Embora haja um lado privado de Agustina. A minha avó foi sempre uma mulher muito privada — esse lado eu também o conheço, mas não totalmente: há coisas da vida da minha avó às quais nem eu tenho acesso; acho que nem quero ter acesso, acho bom que as pessoas tenham os seus mistérios também e a Agustina tem essa aura de mistério na vida dela e na sua personagem literária; e eu penso que é isso que dá densidade também à sua obra, ou à obra de um artista que consegue preservar esse tal mistério.
É uma avó generosa, é uma avó dura também. Muitas vezes foi um bocado dura. É uma avó que diz o que pensa. Uma avó presente, uma avó... Enfim, que tem muita estima pelos netos e pela família.
E qual é o porto e o Porto de Agustina Bessa-Luís?
O porto seguro de Agustina acho que é a sua casa, na cidade do Porto. Foi aqui que escolheu viver. Já vive em permanência na cidade do Porto desde os anos 1960 — teve um período em que andou um bocadinho a escolher o sítio onde ia viver, ainda viveu uma temporada grande em Esposende, mas acabou por escolher o Porto e a cidade do Porto acho que representa para a minha avó a cidade de resguardo para poder criar e imaginar uma obra literária.
Uma cidade — e uma casa — onde pode ter o ambiente certo para poder ler, escrever e pensar toda uma obra.
O que aconteceu em 2006 e desencadeou o desaparecimento?
A minha avó teve um AVC em 2006. Isso já é de conhecimento público. O diagnóstico demorou muito tempo a ser feito, porque a minha avó não facilitou a vida aos médicos, também.
Isto depois de ter escrito 'A Ronda da Noite', o último livro que escreveu. Nessa altura a minha avó percebeu que, enfim, alguma coisa se passava com a saúde e entendeu que queria sair da vida pública. Foi uma vontade dela, em primeiro lugar. Uma vontade de parar e de descansar — também se queixava bastante de cansaço nessa altura.
É curioso que se afastou completamente da literatura. Não foi um afastamento doloroso, não houve uma ansiedade — foi muito pacífico. Deixou completamente de escrever, de ler, de querer estar interessada na literatura. Nós às vezes ainda deixávamos um caderno em branco ao pé dela e uma caneta, se ela quisesse escrever qualquer coisa, mas isso nunca aconteceu, parou completamente. E é reconfortante saber que foi um corte pacífico — porque podia não ter sido, podia ter sido bastante dramático.
Há, em primeiro lugar, uma vontade própria e da autora em se afastar e que tem sido respeitada.
A Agustina neste momento é uma pessoa que está rodeada de um pequeno círculo familiar, alguns amigos que vêm visitá-la ou muitas vezes telefonam para saber como é que está. Mas eu sinto-a bem. Sinto-a muito serena, sobretudo porque está na sua casa. Acho que a grande alegria da minha avó é poder estar na sua casa.
Agora, é claro que a sua obra... A obra de qualquer escritor, a partir do momento em que deixa de aparecer, de dar entrevistas — porque a minha avó era uma pessoa muito presente na imprensa, nas universidades, um pouco por todo o meio literário, não só em Portugal como no estrangeiro.
É verdade que houve um corte bastante abrupto e rápido. A partir desse momento, uma obra passa a ter outra vida e é um desafio para quem tem essa responsabilidade: no caso, a nova editora, a Relógio D'Água, e a família. Não podemos ignorar este património literário que temos aqui.
É outra fase nesta obra. O essencial neste momento é que a obra venha toda cá para fora outra vez e isso felizmente está a acontecer, para que as pessoas possam voltar a ler Agustina, ou para que haja novos leitores interessados na obra de Agustina.
Houve sinais de que este corte ia acontecer?
Acho que foi abrupto para quem está de fora, para quem acompanhava Agustina fora do seu círculo familiar. Para a família... Eu acho que houve sinais, sim, talvez, durante o período em que escreveu 'A Ronda da Noite', acho que sim, que houve sinais.
Com certeza a minha avó já se tinha queixado, mas eu lembro-me de que quando estava a escrever 'A Ronda da Noite' se queixava de cansaço, que já estava a recusar alguns convites. E sim, isso para mim na altura foi um bocado surpreendente, porque a minha avó não era muito pessoa de se queixar e era muito organizada na sua agenda e estava sempre disponível para falar com as pessoas.
Portanto, acho que sim, que durante aquele período houve pequenos sinais, mas pronto, volto a dizer: se foi a própria que também quis esse afastamento, é muito reconfortante sabê-lo. E saber que não foi uma violência para a minha avó afastar-se da literatura.
Será que percebeu que não ia manter o nível?
Não sei se foi essa a razão. Acho que quis mesmo parar. 'A Ronda da Noite' é um livro extraordinário. Não sabemos o que vinha a seguir, é impossível saber. Se calhar a minha avó sentiu isso, não sei — se sentiu nunca o disse. A única coisa que sentiu foi cansaço e que queria afastar-se.
Não sei se ela sentiu isso. Não sei. Se sentiu que não ia manter um certo nível... Não sei responder a isso, só ela saberia dizê-lo: mas nunca o disse, não nesse sentido.
E hoje, quando fala com ela, ainda nota que está lá a escritora?
Ah! Completamente! Completamente, sobretudo no olhar. Embora fale menos do que falava, tem um olhar que intimida e olha-me com imensa profundidade. Agora, aquele seu espírito independente continua muito presente. Sim, é a mesma pessoa.
Agora, está no seu mundo. A minha mãe [Mónica Baldaque] dizia há dias que a minha avó está mais Sibila do que nunca. Acho que é a definição perfeita.
Olhando precisamente para a obra, Agustina Bessa-Luís não é posta ao lado das escritoras mais feministas, mais ativistas do mesmo período, mas a verdade é que as personagens femininas dela, são sempre mulheres muito fortes, com o mesmo tratamento que os homens.
Falou nessa igualdade. Acho que há um tratamento igual, entre homens e mulheres, [nos livros de Agustina Bessa-Luís]. Esse é também um princípio feminista, embora a minha avó nunca tenha tido essa bandeira feminista, pela luta feminista; não se pode dizer que tenha aderido a grupos, nunca aderiu a grupos feministas — como nunca aderiu a movimentos literários, é uma figura muito independente.
Aliás, a crítica teve sempre muita dificuldade em enquadrar Agustina num movimento. Com o feminismo é igual — e mesmo a minha avó sempre falou com algum desconforto do feminismo. Agora, podemos dizer que é uma figura das letras, uma mulher que escreve, que nunca se deixou rebaixar, nem nunca permitiu ser anulada, nem como escritora, nem como pessoa, nem como mulher.
Desde o primeiro livro que defendeu uma visão e um pensamento. Isto pode ser visto como uma inspiração para as mulheres, se quisermos. Agora, a minha avó, volto a dizer, nunca se quis associar a movimentos feministas — mas eu diria que como pessoa e como escritora quis mais afirmar-se como escritora e não propriamente como uma mulher que escreve, como uma mulher escritora, e na sua obra acho que há um tratamento igual entre homens e mulheres: ou seja, a mulher é capaz de perversidades terríveis, de que os homens também são capazes; os homens são uns mentirosos, as mulheres também são mentirosas.
No geral, acho que a minha avó não tem uma visão muito otimista do ser humano. Há uma certa descrença no ser humano. Uma visão muito circunspecta das pessoas, no sentido de seriedade.
Como é que se mantém o legado de uma escritora como Agustina após o seu desaparecimento, que não é morte?
Com a ajuda da editora, que tem um papel fundamental neste projeto de reedição da obra. E com, enfim, projetos de pessoas de fora que também têm esse interesse em falar de Agustina, em perceber quem é esta figura. Temos de também estar abertos a falar da sua obra e depois há todo um arquivo que ainda está a ser visto, que vai demorar alguns anos a acabar de ser visto e percebermos o que é que temos ali exatamente: temos muitos manuscritos, muitos datiloscritos, temos correspondência... De resto, eu estou neste momento a ver a correspondência de trabalho, que teve com universidades e editores também, a tentar inventariar e perceber o que é que está ali, o que significa.
Mantém-se com um trabalho diário e, enfim, é um esforço conjunto, sobretudo entre família e editora — acho que a editora tem um papel importantíssimo neste momento, são eles que levam os livros aos leitores, que é o essencial: o essencial da obra de Agustina é a sua escrita, aquilo que ela escreveu, é a sua voz, a sua palavra. É isso que nós queremos levar às pessoas.
O que se passou com a editora Guimarães?
Não queria entrar em grandes detalhes, não acho que seja assim necessário. Acho que isso já foi falado, isso já foi dito. Foi uma editora que teve um papel importantíssimo, foram sessenta anos de colaboração e foram eles que publicaram 'A Sibila', que foi o livro que realmente lançou a minha avó nas letras. A certa altura não foi possível continuar a colaboração e a Relógio D'Água fez a sua proposta e parece-nos excelente — é uma nova vida na obra da autora.
De que forma a mudança de editora rejuvenesceu a imagem da obra e da Agustina?
Falando da imagem propriamente dita, e sem querer parecer superficial, acho que as capas dos livros foram sempre muito trabalhadas, mesmo no tempo da Guimarães, tanto o meu avô como a minha avó colaboravam nesse processo — a partir de uma certa altura, não no início —, de maneira a que a capa já refletisse um pouco a obra, que tivesse uma imagem forte. E nisso a Relógio D'Água já tem esse reconhecimento, não só nos livros de Agustina como nos outros; reconhece-se facilmente uma capa dessa editora e estamos a continuar a trabalhar nesse sentido: a minha mãe tem também dado esse apoio na escolha das capas.
Depois, tem sido feito um trabalho muito cuidadoso, não só da minha parte, como também da editora, de uma revisora da editora, no sentido de lermos a obra e levá-la até aos leitores sem gralhas, por exemplo. Uma das coisas que se apontava muito era que havia gralhas nos livros. E esse é um trabalho que eu também tenho feito: em algumas obras, comparar o livro publicado com o manuscrito original. Portanto, há todo um enorme cuidado com o texto, que é Agustina pura, obviamente.
Ainda há muita procura pela obra de Agustina?
Ainda há muita procura... Daquilo que me chega pessoalmente, há pessoas que me escrevem, ou que falam comigo; pessoas que eu conheço, outras que não conheço, que me dizem ou que estão a começar a ler a obra e que têm um certo fascínio, que só leram um livro ou dois, mas que já dizem que querem continuar a ler. Outras pessoas que leram 'A Sibila', que ainda são do tempo em que se dava 'A Sibila' na escola — eu já não apanhei, felizmente! Acho que teria sido terrível ter estudado 'A Sibila' na escola. Eu li 'A Sibila' aos 17 anos e foi ótimo ter lido sozinha, sem interpretações escolares.
Houve pessoas que leram 'A Sibila' ainda e depois desistiram de Agustina e voltaram anos mais tarde. Há imensa gente que me diz que começa agora, muitos depois dos quarenta, a voltar a ler Agustina.
Esta reedição da obra também faz com que haja interesse na obra, pelo menos é a noção que eu tenho, que há uma grande curiosidade em ler a sua obra, em perceber quem é, que fenómeno é este, Agustina Bessa-Luís.
Para a maioria das pessoas, as histórias dos nossos avós são só nossas. Mas as histórias da sua avó são partilhadas com o mundo todo. Como se vive com isso?
Quando li 'A Sibila', aos 17 anos, e agora estou a reler — acho que é a quarta leitura que faço —, já tinha ouvido imensas pessoas dizer que era um livro terrível e dificílimo, labiríntico. Li esse livro e lembro-me perfeitamente de ter sentido que toda aquela linguagem me era completamente familiar. Era como ouvir a minha avó a falar. Não senti estranheza, nunca senti essa estranheza em relação à obra da minha avó.
A partir daí, fui lendo outros livros da minha avó que iam saindo. Não sinto dificuldade em ler a sua obra. É verdade que às vezes tenho de voltar atrás, ir duas páginas atrás, tenho de ir ao dicionário, tenho de ir procurar qualquer coisa de que a minha avó fala e eu não sei exatamente o que é — mas isso, para mim, é o processo de leitura de qualquer escritor mais exigente; para mim não é um problema estar a ler um livro e ter de ir ao dicionário, ou ter de ir procurar qualquer informação que me faça perceber o contexto.
Para mim, ler é isso; isso faz parte da leitura. E ler Agustina Bessa-Luís é isso também — como ler Camilo, passamos a vida a ir ao dicionário, tem um domínio da língua muito impressionante.
Há pessoas que leem Agustina como eu a leio. O que posso dizer é isso: que é uma linguagem que eu reconheço, que é quase da casa, não sei, mas muito mais trabalhada, muito mais sofisticada, obviamente, muito mais aprofundada, mas não é nada que me inquiete, que me assuste ler um livro da minha avó. Nunca comentei aprofundadamente com a minha avó os livros dela — exceto 'A Ronda da Noite'.
Quando estava a ler 'A Ronda da Noite', disse à minha avó: "Avó, estou a ler 'A Ronda da Noite', é um livro fantástico" e a minha avó não quis falar. Comecei a fazer perguntas ela disse: "Não tens nada que fazer perguntas" — e eu parei. Sempre senti que a minha avó não queria propriamente que eu comentasse com ela os livros que ela própria escrevia.
Acho que as pessoas que leem a obra da minha avó têm uma visão, não todos, mas das coisas que vou lendo, partilho as opiniões de alguns, outras opiniões não partilho nada. Por exemplo, quando dizem que a Agustina trata muito mal os homens nas suas obras... [risos] Não partilho dessa opinião, mas temos de respeitar.
Fico muito contente quando alguém diz que está a ler Agustina. Alguém mais novo do que eu ou alguém que já leu no passado e que volta a ler. É um orgulho enorme.
Acredita que haja quem pense que a sua avó já morreu?
Não faço ideia, espero que não. Acho que não. Nunca me tinha ocorrido tal coisa [risos].
E já se esqueceu Agustina?
Não, acho que não se esqueceu Agustina. Lá está, acho que é um fenómeno também nesse aspeto: acho que a minha avó em todos os sentidos é um fenómeno no meio literário — e esta é a leitura que eu faço; é certo que estou muito por dentro e estou mais envolvida e portanto posso ter uma noção das coisas que não corresponde exatamente à realidade —, justamente porque continua a ser lida, porque nunca foi facilmente rotulável, e continua a suscitar interesse e curiosidade, portanto... Acho que não foi esquecida. Não é isso que me tem chegado, não é isso que eu sinto.
Agora, é claro que quando o autor não está presente para falar da sua obra, defender a sua obra, é uma nova vida e é uma incógnita, é sempre uma incógnita; não sabemos — mas vamos andando.
Qual o futuro da obra de Agustina?
O essencial é publicar os seus romances, é a reedição da obra. Tem-se dado alguma prioridade aos livros que só tiveram uma edição: por exemplo 'O Susto', que só teve uma edição em 1958, vai ter só agora a segunda edição — e é um livro muito procurado e há vários trabalhos sobre ele.
É nisso que estamos empenhados.
Depois, é ver o que é que há no arquivo, o que é que possa ser publicado, no sentido de trazer alguma coisa nova ou algum contributo para se continuar a estudar a obra de Agustina.
Este é o projeto principal — e não é pouco.
Estas reedições e a eventual publicação de inéditos são discutidas com Agustina?
Com a Agustina já não. Era discutida com o meu avô. O meu avô faleceu em novembro [de 2017] mas ficou muita coisa falada e muitos projetos que o meu avô tinha na sua cabeça e que não estão esquecidos e serão postos em prática assim que houver essa oportunidade.
Mas é um trabalho feito com pinças, é importante dizê-lo. Há imenso cuidado — porque estamos focados nisto: o importante é a voz de Agustina; e perceber que aquilo que sai cá para fora é sempre no sentido de dar mais um contributo para que se compreenda a obra de Agustina.
Como é que ela está hoje? Na imprensa falou-se em demência, Alzheimer...
Não, não. Nem pensar. Nem demência, nem Alzheimer, está completamente fora do que se passa. Teve um AVC e ficou com as mazelas de um AVC, embora até tenha melhorado bastante de algumas.
A Agustina está bem, está serena, faz a sua rotina diária. Está com uma vida que nunca teve, porque trabalhou sem descanso quase — tinha descanso uma vez por ano, nestes últimos anos, que eram as férias que passava em França, no País Basco. E mesmo aí levava trabalho, levava sempre uma conferência que tinha de escrever, um artigo ou qualquer coisa — não levava romances, propriamente, para acabar.
Está numa fase de descanso. Está a ser muito bem tratada, obviamente. Enfim: está com outra vida, é outra fase.
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