A autora de 30 anos sustentou a decisão, em comunicado, evocando os relatórios mais recentes de organizações humanitárias que têm denunciado a situação segregacionista (de 'apartheid'), na Palestina, aderindo assim ao movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS, Boycott, Divestment and Sanctions, na designação original em inglês).

"No início deste ano, a organização internacional Human Rights Watch publicou o relatório 'Autoridades israelitas e os crimes de apartheid e perseguição' [na Palestina]. Esse relatório, que vem no seguimento de outro, igualmente condenatório da B'Tselem, a mais proeminente organização israelita de direitos humanos, confirmou o que os grupos palestinianos há muito vinham dizendo: o sistema de domínio e segregação racial de Israel corresponde à definição de 'apartheid' ao abrigo do direito internacional", lê-se na declaração de Rooney.

"É claro que muitos outros Estados além de Israel são culpados de graves violações dos direitos humanos", prossegue Rooney. "O mesmo aconteceu com a África do Sul durante a campanha contra o 'apartheid' naquele país", acrescentou.

"Neste caso particular, estou a responder ao apelo da sociedade civil palestiniana, incluindo todos os principais sindicatos de trabalhadores e associações de escritores", garantiu.

"O BDS é uma campanha de base não violenta, antirracista, liderada por palestinianos que reivindica um boicote económico e cultural contra as empresas e instituições israelitas, cúmplices com o sistema de 'apartheid' e outras situações de violação grave de direitos humanos", explica Rooney no comunicado.

Sally Rooney assegurou assim que os direitos de tradução permanecem disponíveis, sempre e quando "encontrar uma maneira de os vender" que "cumpra as diretrizes" estabelecidas pelo movimento BDS.

"Estou orgulhosa por o poder fazer", apontou Rooney, que aproveitou o comunicado para destacar o trabalho de tradução para hebreu de Katyah Benovits, com os seus livros anteriores, "Pessoas Normais" e "Conversas entre Amigos", publicadas pela editorial Modan.

"Gostaria de agradecer a todos os envolvidos na publicação destes livros por apoiarem o meu trabalho. Tambén seria uma honra para mim ter o meu último romance traduzido para hebreu, e disponível para os seus leitores", acrescentou.

Rooney conclui o comunicado expressando solidariedade com o povo palestiniano e com "a sua luta pela liberdade, a justiça e igualdade".

A decisão de Rooney foi criticada pelos responsáveis do Jewish People Policy Institute, na plataforma noticiosa judaica Forward, por considerarem que contraria "a própria essência da literatura" e "o seu poder de trazer um sentido de coerência e ordem ao mundo".

No passado mês de maio, Sally Rooney assinou uma "Carta Contra o Apartheid", que apelava a "uma cessação imediata e incondicional da violência israelita contra os palestinianos", e pedia aos governos que "cortassem as relações comerciais, económicas e culturais", com Israel, a par de outros autores como Nan Goldin e Naomi Klein.

O romance “Onde estás, mundo maravilhoso?”, centrado em quatro jovens irlandeses, que navegam entre o amor, a amizade e os seus medos quanto ao futuro, deverá chegar em breve às livrarias portuguesas, de acordo com a Relógio d'Água.

A escritora irlandesa tem também publicados em Portugal, através desta editora, o conto "Sr. Salário" e "Pessoas Normais", romance sobre uma complicada relação de amizade, que venceu o Prémio Costa para Melhor Romance, foi eleito Livro do Ano pela Waterstones e foi finalista do Prémio Man Booker, em 2018, tendo sido ainda nomeado, no ano seguinte, para o Women’s Prize for Fiction e o Dylan Thomas Prize.

"Pessoas Normais" é uma obra recomendada pelo Plano Nacional de Leitura.