Nestes 15 anos depois da classificação pela Unesco, construíram-se no Alto Douro Vinhateiro (ADV) novas unidades hoteleiras, muitas de qualidade superior, e chegam ao território cada vez mais turistas, muitos deles de barco. No entanto, este é ainda um território afetado pela sazonalidade e que se esvazia de visitantes após as vindimas.
“A classificação do ADV pela Unesco é um reconhecimento da qualidade universal da paisagem duriense e uma insígnia que autentica o Douro nos mercados internacionais. Por conseguinte, é um ativo que consideramos poderoso na promoção do destino”, afirmou à agência Lusa Melchior Moreira, presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte.
Como exemplo, o responsável citou “os operadores internacionais de cruzeiros no Douro que utilizam a insígnia da Unesco para fortalecer o posicionamento deste destino nos mercados internacionais onde ainda não tem uma notoriedade afirmada”.
Segundo dados fornecidos à Lusa pela Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL), em 2001, havia no rio Douro 24 embarcações turísticas fluviais de nove operadores, que transportaram 281.300 passageiros.
Em 2016 e até ao dia 31 de outubro, viajaram pelo rio em programas de uma hora a uma semana 863.043 passageiros em 85 embarcações de 47 operadores. Neste período surgiu o novo segmento barco hotel.
Melchior Moreira frisou que o “Douro tem uma importância determinante para o turismo no Norte”.
“Não obstante ainda representar uma fração relativamente pequena da economia turística do Porto e Norte de Portugal, 5% das dormidas em empreendimentos turísticos do Norte, o Douro é um elemento vertebrador da região”, afirmou.
Em 2001, havia no Douro 2.276 camas e a estada média do visitante no território era de 1,6 noites.
Em década e meia, muitos estabelecimentos hoteleiros foram reconvertidos, alguns para alojamento local. Em 2014, contabilizam-se 3.547 camas, que incluem as unidades de turismo no espaço rural e turismo de habitação. A estada média manteve-se nas 1,6 noites.
Para o Douro, segundo dados do Norte 2020 (até 31 de outubro), estão previstos “cerca de sete milhões de euros em investimentos” que visam alavancar a internacionalização e exportação das marcas de vinhos e com isso, segundo o responsável, “contribuir para a notoriedade externa do subdestino Douro”.
“Estas ações terão um contributo claro para alterar a perceção da procura, em geral, relativamente ao território duriense”, afirmou Melchior.
Mas, na sua opinião, o ADV “está a transformar-se no sentido de acrescentar à sua cadeia de valor tradicional novas atividades e serviços turísticos que estabelecem uma relação direta com o cliente final”.
As quintas, que estavam há 15 anos quase exclusivamente focadas na produção do vinho estão neste momento a reestruturar a sua visão sobre a economia do Douro e a procurar no turismo novas formas de afirmação comercial da sua atividade nuclear — o vinho.
Segundo o presidente da entidade regional, o turismo e, em particular, o enoturismo, é um “bypass inteligente que vai permitir, gradualmente, ligar o processo de comercialização dos vinhos a novos consumidores e libertar as empresas das grandes distribuidoras”.
Neste processo, acrescentou, vão-se consolidando novas atividades associadas às quintas — os eventos, as provas, as visitas, o alojamento e a restauração – que implicam um compromisso permanente com os visitantes ao longo do ano e, por essa razão, a redução gradual da sazonalidade.
Também os cruzeiros no Douro têm vindo a intensificar a sua programação de forma articulada com “o terroir”, incluindo visitas a quintas, a aldeias vinhateiras, como Provesende, Favaios e Ucanha), a unidades museológicas da região, por exemplo o Museu do Douro, o que “impacta de forma muito positiva na atenuação da sazonalidade”.
Comentários