"É essa mensagem que queremos passar, que gostamos muito de ter uma elevada biodiversidade, mas é a biodiversidade própria de cada sistema, com cada um no seu lugar", disse Paula Chainho investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE).
Quando as espécies deixam de ocupar o seu lugar, acrescentou, "podem causar desequilíbrios, que podem ter consequências graves para os humanos" e para a natureza.
Os cientistas não sabem quais as consequências exatas para os ecossistemas da presença de espécies exóticas pois "cada um tem um equilíbrio próprio", por isso, a investigadora defendeu que a "prevenção é o melhor remédio", recordando que "ao introduzir uma espécie não indígena é extremamente difícil ou impossível erradicá-la".
Visando sensibilizar os portugueses, nomeadamente as crianças, foi hoje inaugurada uma exposição em Alcochete, com o título "Invasão Exótica: o Tejo sob ameaça", a decorrer até 15 de abril, em parceria com o Instituto de Conservação da natureza e Florestas (ICNF) e a Câmara Municipal de Alcochete, e será realizado um encontro, no dia 22 de março.
As duas iniciativas vão utilizar mensagens e linguagem simples de modo a serem percebidas por todos e o objetivo é receber a visita de escolas de modo a sensibilizar os mais novos para este problema, utilizando jogos didáticos.
"Há muitas espécies exóticas, não indígenas, na bacia do Tejo, e isso pode representar um problema grave para o qual as pessoas não têm sido alertadas", realçou Paula Chainho, coordenadora da exposição.
Entre as espécies invasoras mais emblemáticas, que na bacia do Tejo serão 57 no total, a cientista deu os exemplos de uma planta ornamental, o jacinto-de-água, vinda do Brasil, da ameijoa-japonesa, primeiro introduzida na ria Formosa, ou o siluro (Silurus glanis) - peixe de grandes dimensões, mas muitas vezes confundido com o muito mais pequeno peixe-gato -, oriundo da parte asiática da Rússia.
O jacinto-de-água "consegue proliferar em grande quantidade, é uma espécie invasora e pode tapar completamente uma ribeira, reduz a concentração de oxigénio na água, afeta todos os organismos que ai vivem e impede a circulação de embarcações, tem um impacto para o ecossistema e outro para nós", explicou a investigadora do MARE.
A ameijoa-japonesa chegou a Portugal para ser usada na aquacultura porque, referiu, "é uma espécie de grande interesse comercial, tem um crescimento muito rápido, e supõe-se que intencionalmente foi dispersada pelos sistemas estuarinos e costeiros por pescadores".
Oriunda do Indo-Pacífico, em Portugal encontra-se no Tejo, no Sado, na Lagoa de Óbidos, na Lagoa de Albufeira e no estuário do Mondego, como descreveu Paula Chainho que citou estimativas de 2014 e 2015 a apontar para a existência de 1.700 apanhadores no estuário do Tejo, representando um rendimento económico direto.
A ameijoa-japonesa é muito abundante, compete com as espécies autóctones, como a ameijoa-boa, que "diminuiu radicalmente e é muito raro encontrar exemplares" no estuário do Tejo, descreveu a cientista.
Paula Chainho falou ainda do siluro, "trazido da Ásia, da Rússia, porque os pescadores gostam muito de o capturar, principalmente devido à suas elevadas dimensões".
Outros vetores de introdução de espécies exóticas são as águas de lastro dos navios, usadas para equilibrar os porões quando não estão cheios e que são largadas no porto onde recebem carga, levando organismos vivos característicos do lugar onde encheram os tanques.
Os cascos das embarcações também transportam organismos, a aquacultura, se tiver ligação com o exterior, pode levar ao ecossistema espécies exóticas, assim como a libertação de isco vivo nos rios ou lagoas e "uma das mais usadas é a minhoca coreana, importada da China", além de outras importadas do Vietname e dos Estados Unidos, disse.
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